As Aventuras de Agamenon – O Repórter

Publicada em 30/01/2012 às 21:32

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Assistir ao trailer de As Aventuras de Agamenon – O Repórter foi poder prever que estava por vir uma atrocidade tão grande quanto aquela publicidade de um certo refrigerante que rimava (?) com “iate” e que era estrelada por Marcelo Adnet. Essa nova pérola do cinema global (para não ter que dizer “nacional”) supera em má qualidade toda aquela tradicional produção dita “humorística” dos sábados à noite.

É degradante ver que essa “nova” geração de humoristas contrasta tanto com o grupo de gênios que conta com nomes como Chico Anysio e Jô Soares, mesmo que estes tenham crescido assistindo a esses mestres e, por vezes, convivido ou contracenado com eles. Revolver àquelas comédias pouco inteligentes, que faziam rir com piadas rasas sobre flatulências, traição, homossexualidade, caretas patéticas e proctologia, ficou muito aquém de uma comédia pastelão de bom gosto (como a que faziam Os Três Patetas). Foi ápice da decadência.

A ideia de um personagem icônico e atrapalhado que presencia diversos momentos históricos e, de certo modo, acaba por catalisá-los é incrível e moldável ao bel-brazer de uma mente criativa. O que ocorre nesse filme é uma brincadeira de péssimo gosto, afinal, a barreira que separa o bom humor negro de uma má piada é extraordinariamente frágil. O problema aqui não é a ridicularização da cultura alheia, até mesmo porque Sacha Baron Cohen e Larry Charles já provaram que é possível fazer isso com muito primor. O fato é que piadas de baixo calão, que geralmente fazem rir um público pouco exigente em nada combinam com um pano de fundo cultural e histórico. Para citar um exemplo (e me abstenho da responsabilidade de criar um alerta de spoiler) cito a cena em que Agamenon entrevista Albert Einstein e o diálogo sobre como as teorias do físico alemão serviram de base para a bomba atômica se restringe a um trocadilho com flato.

No entanto não são as conhecidas más atuações de Hubert ou o declínio do talentoso Adnet que de fato chocam na projeção. Nem mesmo as anedotas velhas e sem graça causam tanto embaraço quanto ver que ícones nacionais foram capazes de manchar o próprio currículo com essa produção. Pedro Bial, Fernando Henrique Cardoso, Paulo Coelho, Nelson Motta, Jô Soares, Susana Vieira e Caetano Veloso compõem (em sua maioria) o grupo de intelectuais que surgem como tristes surpresas ao longo desse “documentário” (aliás, a escolha de um gênero geralmente enfadonho como esse constitui outro ponto negativo do longa). Porém nenhuma dessas aparições se faz tão chocante quanto a presença de Fernanda Montenegro como narradora. Somente algum insano neologismo seria capaz de dar conta do sentimento estarrecedor que toma conta daqueles que tiveram o desprazer de ouvir a voz dessa grande atriz convertendo placas do movimento feminista em absurdos “doe a bunda!”.

As Aventuras de Agamenon – O Repórter não é apenas um atentado à sanidade ou à intelectualidade, é um longa-metragem de abusos que não merece nem mesmo um quadro no (des)falecido Casseta & Planeta. Resta-nos a esperança de que essa indigesta experiência seja, enfim, o fundo do poço e que ninguém que tenha alguma ideia mais torturante seja o detentor da ferramenta que possa nos levar mais afundo.

Há algo pior para o cinema de humor do que terminar uma sessão sem conseguir ao menos arrancar uma risada do espectador?

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Por Laísa Trojaike

Comentários (3)





Juliana comentou: Este filme é uma pouca vergonha, o que será que eles acharam quando fizeram este filme, que só afunda mais o nome do cinema nacional. Me arrependi profundamente de gastar meu dinheiro indo no cinema para assistir um filme que era para me fazer rir de piadas saudáveis e construtivas e não de piadas pervertidas ao longo do filme todo. Nota
02/04/2012 | Responder

Cristiano da Silva Vieira comentou: Deu vontade de ver o filme só pra ver que ... ele é! Nota
21/02/2012 | Responder

Lygia comentou: Diria às pessoas que esse filme dá raiva, e que terminei o filme com vontade de chingar até as videolocadoras que nos dispinibiliza o "filme". Mas é, de fato, triste! Como dito, é realmente decadente para a nossa produção nacional uma jaca dessa que jaz-se nos cartazes de cinema... "Great Scott!" Nota
13/02/2012 | Responder