Contágio (2)

Publicada em 31/10/2011 às 14:37

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Contágio Crítica 2

Uma boa direção, trilha sonora quase minimalista muito interessante, uma excelente fotografia que, pouco a pouco, parece adoecer também (expondo uma tonalidade verde amarelada), mas um roteiro que não deixa os personagens valerem a pena. Essa escolha por uma história quase imparcial junto aos protagonistas é bem perigosa para um tema onde a vida e a morte são os extremos opostos do fio condutor geral.

Steven Soderbergh é, sem dúvida, um cineasta autoral. Mesmo sem os dotes visuais inconfundíveis de Tarantino, Tim Burton ou Almodóvar (que nos remete aos seus autores em menos de 5 segundos de projeção), Soderbergh é criativo o suficiente para ter uma estética própria (assim como o mestre Scorsese). E, ao fazer com que o vislumbre do longa em questão caminhe subjetivamente junto à trama, transforma o resultado final em uma mistura da inteligência visual scorsesiana com o tratamento emocional de David Fincher.

Sendo assim, é nesse fato último que Contágio demonstra equívoco. Enquanto Fincher é um diretor extremamente racional, demonstrando a sua preferência em ter tudo sob seu controle, manejando sentimentos (até terrivelmente fortes, como em Seven – os Sete Crimes Capitais), Soderbergh transforma o racionalismo em algo desprovido de emoções, o que distancia o público de tudo o que ocorre durante os 106 minutos de projeção.

As razões do diretor para escolher tal caminho podem ser diversas. A melhor, talvez, seria a tentativa de fazer a trama ser de maior valia do que o caráter psicológico de cada personagem. Mas, infelizmente (ou felizmente), isso parece falível quando se inibe emoções. É como ver seu próprio filho, ainda criança, morto e demonstrar uma quase detestável imparcialidade.

O mais incrível, mesmo assim, é o resultado final. A ideia do roteirista Scott Z. Burns de como a humanidade reagiria a uma epidemia de nível tão devastador é inteligente. A fotografia adoentada do próprio diretor (o que demonstra a sua aptidão racional e a sua predisposição pelo comando integral) é de uma intensão preciosa e a trilha sonora atrevida, que parece ecoar sons de uma banda eletrônica de vírus, é fundamental para transformar Contágio em um dos dez melhores filmes do ano.

Bons e ruins filmes para nós!

Saiba mais sobre o filme Contágio.

Por Sihan Felix - @sihanfelix

Comentários (1)





Paulo comentou: Interessante, bom para passar o tempo. Nota
11/11/2011 | Responder