Incêndios

Publicada em 09/02/2011 às 14:17

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Muito da literatura romântica fora escrito se usando, como pano de fundo, passagens históricas - o drama fictício em duelo com o drama de um povo. Isso pode ser usado tanto para introduzir um período quanto para incitar a verdade - que é, nesse caso, inexistente.

Wajdi Mouawad, autor da clássica peça que deu origem ao filme em questão, não foge dessa esquematização e, propositalmente, Denis Villeneuve ressalta esse lugar-comum de forma declarada.

Apostando numa estrutura cronológica e simples no uso de flashbacks, o roteiro muito bem adaptado consegue envolver sem apelar para o suspense desmedido. Não incentivando, inicialmente, a imaginação sobre o futuro dos gêmeos personagens, o cineasta consegue manter a passividade do espectador, conduzindo o primeiro ato de forma inteiramente ativa, dando (quase) nenhuma margem às lágrimas. Afinal, se não existe qualquer tipo de identificação, existe nenhuma (ou pouca) chance de sentimentalismo.

Porém, tudo fica mais denso quando está em cena a excepcional Lubna Azabal. No papel de uma mãe-mulher deformada (não fisicamente) pelo fanatismo religioso, a atriz apresenta uma performance vigorosa e sombria, permitindo que Villeneuve explore, novamente, os limites do ódio, após o intenso e excelente Polytechnique.

A trilha sonora consegue, com sucesso, temporizar os acontecimentos, fazendo com que o inteligente e simples (!) roteiro seja ainda mais paupável. É interessante perceber a música eletrônica que salta aos ouvidos quando, na tela, se encontram os irmãos (tempo presente).

A fotografia melancólica de André Turpin, junto ao olhar do diretor, permite que a essência do texto original se faça presente e, sem dúvida, é um dos grandes méritos do filme.

Trabalhando de forma marcante as nuances e diferenças culturais entre o ocidente e o oriente, Incêndios consegue expor (mantendo respeito) as religiões, indicando a complexa comunidade mulçumana do Canadá e o exército católico armado do Líbano (mesmo que esse país não seja citado uma única vez durante a projeção).

Em um misto de poesia fulgurante, busca pela verdade (e mentira), ódio, realidade e ficção, os 130 minutos conseguem prender e causar discussão. Não supera sua forma teatral, mas é uma adaptação muito bem realizada. Um belo ensaio sobre o trauma. Uma produção que é inteligente ao mesclar a estética pop e o realismo social, o comum histórico e o pessoal. Seria uma grata surpresa na noite do Oscar.

Bons e ruins filmes para nós!

Saiba mais sobre o filme Incêndios.

Por Sihan Felix

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