Marcados para Morrer

Publicada em 24/11/2012 às 12:44

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Marcados para Morrer
 
Existe uma cultura velada de que o crítico de cinema não pode alimentar dúvidas (pelo menos não no seu texto). Ou é ou não é, ou parece ou não parece. Essa não é a minha posição. E eis o meu impasse: se, por um lado, mockumentary não pressupõe found footage, por outro, Marcados para Morrer exclui a possibilidade de existência de um cinegrafista que não seja personagem. Por uma questão de princípio de caridade, vou preferir supor que a qualidade do filme implica que as imagens que claramente não foram captadas por algum dos personagens (sejam dos bandidos, dos policiais ou do helicóptero), constituem a câmera como um personagem em si. Se assim for, David Ayer é de uma genialidade ainda maior do que se supõe nessa película e, além de uma homenagem aos policiais, temos, também, uma autoreferência ao cinema.
 
Infelizmente é impossível ignorar o título-spoiler que o longa ganhou no Brasil. O departamento de marketing da California Filmes foi infeliz ao “traduzir” o termo “End of Watch” (que remete à gíria utilizada pelos policiais para indicar o fim de um turno de trabalho). Mas, embora antecipe um detalhe da trama, o título não entrega tudo.
 
A utilização do estilo falso documentário fez do longa uma reinvenção da técnica (geralmente empregada no gênero terror) e, claro, concedeu uma veracidade maior à história. Com uma justificativa plausível, Brian Taylor (Jake Gyllenhaal) faz Direito e optou por uma disciplina eletiva de Cinema. Pondo em prática o dever de casa, ele decide documentar o dia-a-dia de um policial, sob a visão dele e do seu parceiro, Mike Zavala (Michael Peña). Câmera na mão, no uniforme e na viatura da dupla. As outras câmeras de que se pode ter uma noção da procedência são a do helicóptero do DP e dos traficantes (porque hoje virou moda filmar tudo o que se faz, mesmo que isso possa ser usado como uma prova criminal). Mas existem outros planos que extravasam essas possibilidades, daí a genialidade sobre a qual já comentei. Além disso, optar por não se ater somente a found footage livrou o filme de limitações que certamente reduziriam a sua qualidade. Aliás, para os gamers de plantão, algumas cenas podem lembrar fases de perseguição de Need for Speed ou algum FPS (First Person Shooter ou, em português, tiro em primeira pessoa) hiper-realista.
 
Com diálogos rotineiros excepcionalmente bem escritos, Gyllenhaal e Peña cativam o espectador pela extrema naturalidade, seja em situações do cotidiano ou em conturbadas cenas de ação. Não só uma amostra dos perigos da profissão, Marcados para Morrer também exibe os bastidores desse universo. Há, por trás do uniforme, pessoas de verdade, às vezes até infantis demais se comparadas à imagem que normalmente é construída sobre o distintivo. E, para aqueles que gostam de dizer que o cinema nacional tem “palavrões demais”, sintam-se a vontade para, nessa projeção, desfrutar de muitos “fuck”, seus derivados e outras gírias.
 
Muito mais tenso que o popular Atividade Paranormal 4, Marcados para Morrer prova que, com criatividade, nenhum tema se esgota, nem mesmo o clássico "cop buddy movie". Além do mais, apesar do gênero, um bom roteiro pode sempre guardar surpresas e é assim que Ayer burla os clichês.
 
Saiba mais sobre o filme Marcados para Morrer.
 
Por Laísa Trojaike
 

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