Muita Calma Nessa Hora

Publicada em 19/11/2010 às 18:29

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Obs: Não recomendo a leitura à quem ainda não teve a oportunidade de assistir. Contém spoilers.


Esqueçamos a originalidade do co-roteirista. Bruno Mazzeo não quis (e é visível) recriar a sua forma de contar histórias e muito menos buscou piadas e situações novas. O fato é que ele seguiu as fórmulas já utilizadas em seus diversos trabalhos para televisão (e que funcionam bem) para criar um roteiro simplório, sem grandes reviravoltas, repleto de clichês e piadas imperiais (“Dizem que o fumo mata lentamente, viu?” “E quem disse que tô com pressa?”). Mas o filme flui com uma leveza muito boa... e isso, devido às fraquezas mencionadas, é um mérito considerável.

A trama segue Tita (Andréia Horta) que, após desistir de um casamento fadado ao fracasso, viaja com as amigas Mari e Aninha (Gianne Albertoni e Fernanda Souza respectivamente) à paradisíaca Búzios, naquela que seria a viagem da sua lua-de-mel. No caminho, o trio se torna um quarteto, ao encontrar e, aos poucos (ou nem tanto), absorver a hiponga Estrella (Débora Lamm), que está à procura do seu pai.

É nesse quarteto principal que reside o maior erro da projeção. Tita, devido à desilusão amorosa, é a que só pensa em fazer festa com o maior número de homens. Mari, por ter levado uma cantada do chefe (Lúcio Mauro), decide tirar férias do sexo oposto (no que é um motivo solto). Aninha é a indecisa. E Estrella é a pseudo-hippie. Pecando ao não tratar as personagens como pessoas e, sim, como tipos citados, o roteiro se prende a uma sucessão de situações repetidas e, ao não se aprofundar, nem por um instante, nos dilemas de cada uma delas, expõe a sua face de programa televisivo do naipe de Zorra Total, A Praça é Nossa, com um quê, claro, de Cilada e Junto & Misturado.

Mesmo assim, as quatro atrizes não se saem mal, porém é Fernanda Souza que se destaca. Seja pelo seu esforço para que o espectador acredite em todas as situações expostas ou pela forçada repetição (e que não é culpa dela) dos seus pensamentos indecisos (que parece martelar na cabeça do espectador essa sua condição), a atriz consegue imprimir um bom ritmo às sequências que participa, o que acaba beneficiando as colegas de cena.

Recheado de participações especiais, nenhuma delas tem o efeito catalisador de risadas do talentosíssimo Marcelo Adnet. Encarnando o típico playboy paulistano, Adnet vale, sozinho, por, no mínimo, um quarto do ingresso. A cena em que vê seus aparelhos de última geração encharcados em “vomíto” é, definitivamente, o ápice cômico do filme. É triste perceber que, após essa sequência muito bem realizada, o roteiro (sempre ele) vai destruindo a piada com suas repetições traiçoeiras, parecendo querer espremer até a última gota de uma laranja que, contrariando a intenção, acaba ficando sem gosto – e isso é ainda mais perceptível numa sala de cinema cheia. O mesmo ocorre com as personagens de Maria Clara Gueiros (a empregada escandalizada), Lúcio Mauro Filho (Chiii-cleee-te!) e Hermes & Renato (“Show! Show! Show! Show!”), que surgem colhendo boas risadas, mas são sabotados pelo excessivo replay piadístico.

A grande Laura Cardoso, que tem a sua participação logo no princípio dos noventa minutos, como a avó de Estrella, é prejudicada por um texto débil e uma fotografia levemente esverdeada. Já Bruno Mazzeo, em sua única aparição, também no início, faz, junto à Ellen Roche, uma ceninha de pornochanchada capaz de arrancar uma risada (duas, talvez).

Nelson Freitas e Dudu Azevedo, donos de espaços maiores, saem-se regulares. Freitas é traído por um personagem pseudo-argentino que fala demais e, por incrível que possa parecer, sai-se melhor nas cenas em que não precisa incutir o riso nos espectadores. Já o galã não faz mais do que fizera, outrora, em novelas... não comprometendo, mas sem qualquer destaque.

Sérgio Mallandro, em uma curtíssima sequência como tatuador, merece elogios (e ainda deixo claro que nunca gostei do seu trabalho). Ele surge firme, contido e valorizado, em um dos raros acertos da direção de Joffily. André Mattos, com sua personagem alucinada pela emancipação de Búzios, também merece aplausos, mesmo sendo castigado pela repetição (se estou martelando repetidamente nessa falha, não é mera coincidência). Além, Luís Miranda consegue um bom resultado com a Drag Queen Buba.

O trabalho de Felipe Joffily, que prometia crescer (após ter realizado o bom ÓdiQuê? e ter trabalhado, com ótimos resultados, no Cilada), com Muita Calma Nessa Hora desce alguns degraus. É possível que, às vezes, o filme pareça uma grande montagem de pequenos videoclipes intercalados por esquetes cômicas. Seria pela experiência e intimidade que o diretor possui com o gênero? Pode ser que sim.

Claro que o baixo orçamento prejudicou (basta observar a quantidade de patrocinadores que surgem à tela grande antes do início do longa e as menções, quase que constantes, de uma determinada operadora no decorrer), mas a lição de casa precisa ser feita de forma mais contudente. Contudo, o resultado final pode ser tachado de (muita calma nessa hora!) simpático.

Bons e ruins filmes para nós!

Saiba mais sobre o filme Muita Calma Nessa Hora.

Por Sihan Felix

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