Trabalho Interno

Publicada em 18/02/2011 às 10:31

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Mais do que um simples documentário, Trabalho Interno pode ser considerado um brilhante filme histórico que sintetiza a crise global de 2008 e que, ilustrando de forma clara o capitalismo dos anos 1980 até os dias atuais, consegue ir além e cativar com um assunto pouco palpável.

Com uma escolha inteligente e expressiva, Charles Ferguson toma a Islândia como ponto inicial. A ruína de um pequeno país-paraíso (obviamente não falo do clima) se mostra significativa e oferece um impacto inicial poderoso sobre as duas horas da projeção.

Acertando na imparcialidade - o que é louvável, visto que o cineasta é averso ao governo Bush e, mesmo assim, não procura preservar Obama -, Ferguson expõe, de forma clara e plausivelmente didática, os pormenores econômicos que, para uma sala de cinema, são complexos e poderiam fadigar facilmente a quem desconhece com mais profundidade o sistema econômico.

Muito bem realizado também tecnicamente, o filme conta com uma brilhante fotografia que, sendo simples e firme, passa toda a realidade necessária (afinal, trata-se de algo extremamente real). Os enquadramentos das entrevistas são fantásticos, explorando o ambiente à volta dos entrevistados, o que expõe, às vezes com uma precisão metafórica, para onde foi (e continuará indo) o "investimento" do contribuinte (nós?!). A trilha sonora envolve o conteúdo, mas o seu maior mérito é influenciar absolutamente nada.

Enquanto, há pouco tempo, pôde ser visto um vilão angustiado pela conquista do mundo pedindo empréstimo a um banco (que, em seu interior, parecia mais com o inferno descrito na Bíblia) para comprar a lua, somos apresentados ao mesmo banco, mas, dessa vez, sem qualquer ingenuidade. É fato que os realizadores daquela animação (Meu Malvado Favorito) incluíram, propositalmente e sem caráter infantil, uma placa com a indicação Lehman Brothers (quem disparou a crise financeira) que deve ter passado despercebida pela maioria (confesso que a percebi tardiamente).

Contudo (mantendo qualquer comparação à parte), Trabalho Interno não poupa críticas e muito menos verdades. E, ao final do documentário, se houver qualquer sentimento que não seja revolta, raiva, ódio, ou até uma indigestão moral, tenho certeza que existirá uma verdadeira admiração por essa produção que, apesar da minha forte torcida por Lixo Extraordinário, deverá levar o Oscar.

Bons e ruins filmes para nós!

Saiba mais sobre o filme Trabalho Interno.

Por Sihan Felix

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