Alejandro Jodorowsky: do tarô para as telas

Publicada em 02/02/2016 às 09:00

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“Não podendo me livrar de mim mesmo, perguntei: “Quem sou eu quando leio o tarô”? Meu pensamento é masculino, latino-americano, europeu, adolescente, maduro? Minha moral é judaico-cristã? Sou crente, ateu, comunista, servidor do regime estabelecido? Dou-me conta das características da minha época?”
                                                                                                           Alejandro Jodorowsky


Alejandro Jodorowsky nasceu no dia 7 de fevereiro de 1929, na cidade de Tocopilla, no Chile. Ele é cineasta, poeta, escritor e também psicólogo. Mudou-se para a capital chilena, Santiago, em 1942, para estudar. Nesse período, Jodorowsky trabalhava como palhaço de circo e artista de marionetes.

Agora, antes de prosseguirmos com a biografia do cineasta, vamos fazer uma observação fundamental: a obra de Jodorowsky é excêntrica, tal como o próprio. Para entendê-la, é preciso compreender que o diretor trabalha, em grande parte de suas produções, com linguagens figuradas. Ou seja, ele codifica suas mensagens por meio de símbolos. Parte da inspiração para tal forma de trabalhar vem do forte contato que o diretor tem com o tarô.


Jodorowsky é um artista cujos filmes possuem um perfil de vanguarda, pois são ousados, buscam apresentar o novo, expressar sem medo os estados de alma e pensamentos. Todos esses aspectos fazem dele um verdadeiro artista moderno, que merecia maior reconhecimento.

No ano de 1955, ele se mudou para Paris, onde estudou mímica com o lendário Marcel Marceau. O cineasta ainda trabalhou com o acrobata e ator Maurice Chevalier e fez seu primeiro filme, o curta-metragem A Gravata (1957). Ainda em Paris, o diretor conheceu os roteiristas Roland Topor e Fernando Arrabal. Juntos, criaram o Moviment Panique em 1962.

O Moviment Panique era um grupo multimídia, que homenageava o deus grego Pan (divindade dos bosques ligado à natureza), e fazia performances ao vivo, misturando teatro de vanguarda, literatura e cinema. Nesta época, Jodorowsky escreveu diversos livros e peças teatrais. No final dos anos 1960, ele dirigiu peças de vanguarda em Paris e também na Cidade do México. Além disso, ele criou a tira de história em quadrinhos Fabulas Panicas, e fez o filme Fando y Lis (1968), baseado em uma peça de Arrabal.


Em 1970, Jodorowsky lançou o cult El Topo, um faroeste surrealista, criativo e vanguardista. Graças a seu fã mais ilustre, John Lennon, o filme foi amplamente comentado e distribuído na América. Já no ano de 1973, lança A Montanha Sagrada, produção surrealista, recheada de simbolismo e que viria a ser um grande sucesso do diretor, se tornando um dos mais relevantes destaques de sua filmografia.

Já em 1975, o cineasta chileno retornou à França e tentou fazer uma versão cinematográfica do romance Duna, de Frank Herbert. O projeto teria a participação do renomado diretor Orson Welles e do pintor Salvador Dalí, além de trilha sonora da banda Pink Floyd.

A produção ainda contaria com a colaboração visual dos artistas H. R. Giger, Dan O'Bannon e Moebius. Mas o filme enfrentou problemas de financiamento e Duna (1984) acabou sendo filmado nos Estados Unidos pelo diretor David Lynch. Os percalços enfrentados pelo diretor chileno nessa produção ambiciosa que nunca conseguiu lançar são detalhados no documentário Duna de Jodorowsky (2013).

O trabalho seguinte do cineasta foi Tusk (1980), que conta a história da amizade entre uma garota e um elefante. Nessa década, o diretor se dedicou às histórias em quadrinhos. A colaboração mais famosa foi com o artista francês Moebius, e também, nessa mesma época, continuou escrevendo livros. No ano de 1989, ele retomou a carreira no cinema com Santa Sangre, bastante elogiado pela crítica mundial.

Nos anos 1990, Jodorowsky dirigiu Peter O'Toole e Omar Sharif em O Ladrão do Arco-Íris. Ao longo dessa mesma década, o cineasta continuou se dedicando aos quadrinhos. Já em 2013, ele trabalhou no longa A Dança da Realidade e para 2016 ele prepara a cinebiografia Poesía Sin Fin, sobre sua história de vida. Além disso, o cineasta planeja a continuação do faroeste El Topo numa versão em HQ, intitulada Son of El Topo.

Jodorowsky é um diretor bem diferente, que gosta de tentar sempre algo novo em suas produções e é uma pessoa muito ligada às diversas formas de arte. O chileno possui uma filmografia curta que dividiu os cinéfilos entre elogios e críticas árduas. Por sempre ter tido fortes laços com diversas artes, o diretor costuma criar estética e roteiro carregados de valiosos requícios artísticos, e sempre envoltos por muita simbologia, que, cabem ao espectador serem traduzidas, e a elas, acrescentadas algum significado. O cineasta traspõe certo misticismo aos seus trabalhos, e isso dá aos seus filmes um tom peculiar, esotérico, intrigante, e, por vezes, certamente bizarro.

por Ju Vannucchi
(Artigo enviado de forma colaborativa por um leitor do Cinema10)


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