Rabbits: Um genial retrato do cinema surrealista

Publicada em 04/01/2015 às 21:18

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Rabbits foi uma produção realizada pelo diretor David Lynch e que teve seu lançamento no ano de 2002. Com duração de apenas 43 minutos, as filmagens deixaram críticos perplexos e alguns fãs boquiabertos devido à estranheza do roteiro e da singularidade do contexto do filme.

 
A filmagem possui um ângulo fixo que capta pessoas com cabeças de coelho dentro de uma casa. Os personagens que participam da história alternam-se: um sai de cena, outro entra, e assim por diante. Dentro dessa atmosfera, vão dialogando uns com os outros. Porém, as conversas são totalmente ilógicas e, de vez em quando, surgem aplausos e risadas em coro, como se houvesse uma plateia os assistindo.
 
Para se ter uma ideia de como são os diálogos surrealistas do filme, em uma cena, por exemplo, uma personagem diz se dirigindo á outra: “Há uma coisa que eu gostaria de lhe dizer, Suzie”. E então, risadas de fundo tomam conta da cena, outro personagem se levanta, e retira-se do ambiente, deixando a frase dirigida à Suzie, desconexa e sem explicação. Ou, em outro momento, temos o seguinte diálogo: “Aonde foi isso”?, pergunta uma mulher com cabeça de coelho. E outro personagem responde: “Eu escuto alguém”.
 
O tom fantasioso e a falta de lógica do filme renderam críticas favoráveis e desfavoráveis ao trabalho de Lynch. Na avaliação de alguns espectadores, essa forma de se criar um filme é simples, pois não exige grande coerência, produções grandiosas ou genialidade. Para outros, esse é exatamente o tipo de arte que exige grande raciocínio por parte, tanto do diretor, quanto do espectador, pois o processo criativo de um filme como tal, requer que ideias e diálogos sejam buscados num outro plano, que é do inconsciente e do simbolismo e, assim, também para interpretar um filme como este, é preciso que o espectador mergulhe dentro de si e do seu exterior em busca de relações e interpretações que possam render algum sentido ao que, aparentemente, é algo incoerente.
 
Dessa forma, apesar de muitos críticos terem avaliado a produção sob uma perspectiva negativa, os fãs do diretor já estão acostumados com suas produções atípicas tangidas por pinceladas surrealistas, afinal como já declarou André Breton, francês teórico do Surrelismo: “Hoje em dia, os métodos da Lógica só servem para resolver problemas secundários”. Assim, para quem compreende esse perfil e as características de trabalho do diretor, o filme, é mais uma brilhante viagem reflexiva que Lynch oferece aos seus espectadores e que não depende da racionalidade habitual para ser compreendido.
 
Certa vez, o diretor declarou: "Adoro o mistério e o desconhecido. Gosto de entrar em um mundo e não saber o que vem pela frente. Gosto do apagar das luzes, quando sobe o pano e entramos em um mundo novo" (Veneza (Itália), 6 de setembro, fonte: g1.com.br). De fato, é exatamente esse o efeito que os filmes de Lynch causam: uma verdadeira viagem para um universo desconhecido, que rompe com barreiras padrões e maneiras populares de se conduzir e produzir um filme.
 
O diretor ainda completou na mesma entrevista:  "Não devemos ter medo de usar a intuição e sentir o caminho. Viver a experiência e confiar no conhecimento interior. O cinema é uma linguagem tão bela... ele trata de coisas que vão além das palavras, e isso é belo".
 
Certamente tais declarações fazem justiça à suas produções peculiares e com certeza, se encaixam à obra “Rabbits”, na qual talvez, Lynch tenha utilizado sua linguagem mais enigmática e surrealista, e na qual, mais uma vez, faz excelente uso das propostas deste movimento artístico, pois usa uma linguagem de maneira livre, espontânea e que não necessita da lógica ou da razão: “a linguagem foi concedida ao homem para fazer dela um uso surrealista.
 
Na medida em que lhe é indispensável fazer-se compreender, ele consegue, bem ou mal, exprimir-se e assim assegurar o desempenho de algumas funções, das mais banais. Falar, escrever carta não lhe oferecem nenhuma dificuldade real, desde que, fazendo-o, ele não se proponha um objetivo acima da média, isto é, desde que se limite a entreter-se (pelo prazer de entreter-se) com alguém”. (Manifesta do Surrealismo). 
 
Para quem procura assistir algo totalmente diferente do habitual, e fugir do modo de produção hollywoodiano convencional, ou para quem deseja conhecer o cinema surrealista, The Rabbits, definitivamente, é o filme ideal.
 
por Ju Vannucchi
(Artigo enviado de forma colaborativa por um leitor do Cinema10)

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Comentários (1)





gabriel comentou: eu asisti uns 5 minutos e pulei pros 10 minutos de filme achei esquisito fiquei assustado ! eu nao intendi nada desse filme ! 09/01/2015 | Responder