Capitalismo: Uma História de Amor

Publicada em 06/04/2010 às 16:06

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Certa vez um colunista, cujo nome e veículo não me Recordo, em sua crítica a “Fahrenheit 9/11”, definiu o estilo interativo realizado por Michael Moore em seus filmes, como o mais próximo que um documentário pode chegar de um filme comercial. Seja lá quem for esta pessoa, ele acertou na mosca, pois a fita, sobre o suposto vínculo entre o governo de George W. Bush e os autores dos atentados de 11 de setembro, se tornou o maior sucesso comercial da história dos documentários, arrecadando 23,9 milhões de dólares em seu primeiro fim-de-semana de exibição nos EUA.

Portanto, era de se esperar que o diretor de Tiros em Columbine voltaria a atacar o governo Bush. Seu primeiro trabalho após o sucesso, Sicko – S.O.S Saúde realizado em 2007, focava no péssimo sistema de saúde de seu país. Já seu último trabalho, Capitalismo: Uma História de Amor” (Capitalism: A Love Story,2009), faz uma autópsia da economia americana pós-falência de seu sistema financeiro imobiliário, aproveitando a oportunidade para jogar os últimos tomates no governo Bush.

Particularmente, concordo com os que acusam o cineasta de sensacionalista e manipulador, mas, se acompanharmos seus argumentos com distanciamento e muito senso crítico, assisti-lo pode ser uma experiência gratificante em alguns momentos. Além do mais, quem na industria da comunicação é totalmente imparcial em seu discurso?

Capitalismo – … segue a mesma estrutura hibrida de suas películas anteriores, fazendo um verdadeiro revezamento narrativo, passamos pelo estilo clássico documental (Discovery Channel), cinema direto (Robert Drew) e o modo interativo, do qual o cineasta sai de traz das câmeras e apresentando um discurso não dissimulado.

O último método em questão, é aquele em que o cineasta, aparentemente, sente-se mais à vontade, dando a base necessária para que o “ator” Moore apresente ao público seu estilo irônico-provocativo, e que mais lembra uma apresentação de stand-up comedy. Já que são muitas as cenas em que a informação é deixada de lado, dando lugar as famosas “gracinhas” do cineasta, que desta vez, diferentemente de seus filmes anteriores, se fazem desnecessárias, já que falar sobre a evolução do capitalismo até a crise faraônica de 2008, necessitaria de um filme de mais ou menos um ano de duração para que não parecesse superficial.

Infelizmente o resultado acaba sendo este. Mesmo esclarecedor em alguns momentos, o longa se perde ao inserir fatores da vida pessoal do cineasta, como a história de seu pai, um ex-funcionário da GM, que teve a vida arruinada com o fechamento da fábrica da companhia em Flint (caso amplamente discutido em Roger e Eu), além de, por vezes, exagerar na velocidade e na quantidade em que estatísticas e provas são inseridas na tela, dando pouco tempo para que o público possa digerir as informações.

Apesar disso, o maior problema do documentário é sua total perda de foco nas acusações, em determinado momento acusa o governo Bush pela tragédia, em outros a culpa é das grandes corporações e de Wall Street; no entanto, acaba se esquecendo que o povo americano também foi conivente com este modelo de governo ultra-capitalista, ao reeleger o presidente republicano em 2004.

Capitalismo: Uma História de Amor
termina em clima de final feliz, ao fazer menção a chegada de Barack Obama ao poder, sendo apontado como o novo herói americano. Esta atitude encerra o “emprego” de crítico do presidente do qual Michael Moore atuou durante toda a era Bush.

Resta agora aguardar o próximo filme do cineasta, provavelmente sobre pássaros ou fosseis de dinossauro.

Saiba mais sobre o filme Capitalismo: Uma História de Amor.

Por Bruno Marques   ([email protected])

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