Entre Irmãos

Publicada em 05/03/2010 às 15:06

Comente



"Eu quero ver a minha família/ Minha esposa e filho esperam por mim". Esse é o refrão de "Love Vigilantes", uma música do grupo inglês New Order centrada na história de um soldado que morreria pelo seu país, mas que entre rifles e granadas, fica alegre ao conseguir a sua dispensa. Ao retornar para a sua amada, a vê transtornada com um telegrama que tinha recebido há um tempo, no qual exaltava a coragem do combatente e informava que ele estava morto. Essa canção poderia ser um ótimo resumo do filme Entre Irmãos (Brothers – 2009) se não fosse apenas um diferencial: seu irmão assumiu o seu lugar, inclusive envolvendo-se com a sua mulher.

Sam Cahill (Tobey Maguire) é um capitão da marinha, casado com sua namoradinha desde os tempos de escola, Grace (Natalie Portman), e um bom pai de duas filhas, Maggie (Taylor Geare) e Isabelle (Bailee Madison). Ele é o mais velho e responsável, o seu oposto é justamente o seu irmão Tommy (Jake Gyllenhaal), um desajustado que está sempre bêbado e depois de um tempo preso, sai da cadeia e não quer saber mais de problemas. Tommy vai morar com Sam, este não muito tempo depois deixa sua família para lutar pela sua pátria no Afeganistão. Enquanto o “bonzinho” está cumprindo o seu dever numa viagem perigosa, o “ruim” está calmo e não corre riscos. É óbvio que nesse maniqueísmo criado tem que haver o pai, Hank (Sam Shepard), e é lógico também que essa figura paterna parece que existe só para mostrar a todos a sua preferência por Sam e o total desprezo por Tommy.

Chega à triste notícia que o capitão foi vítima de um acidente fatal de helicóptero. Grace fica arrasada e se desdobra para cuidar das suas meninas. Motivado em ser uma pessoa melhor, Tommy chama toda a responsabilidade para si e tenta ajudá-la, só que sua cunhada não sabendo que rumo irá levar rejeita de início, e com o esfriar dos acontecimentos acaba amolecendo. Como eu citei no começo da resenha, Sam não morreu, vira refém e alguns flashs mostram a crueldade em que ele passa ao ser torturado pelo Talibã, enquanto seus familiares tocam a vida na pacata cidade. Só que nesse momento, mesmo separados por quilômetros, ambos cometem erros que sabem que nunca mais irão esquecer e jamais se perdoar.

Enquanto o combatente é obrigado pelos inimigos a matar um de seus companheiros, Joe Willis (Patrick Flueger), Tommy e Grace com uma química totalmente elevada, chegam a trocar algumas carícias. Sam consegue fugir, e ao retornar para a sua rotina sente que agora é um estranho: não consegue de maneira alguma reconectar as emoções que tinha com suas crianças e, o pior, a sua mulher não tem a mesma aproximação por ele, para ela, o seu marido já morreu no Oriente Médio.

A razão que faz com o que o filme funcione é a força que as atuações exercem nos impactantes relacionamentos. Portman é a mãe zelosa e que sente a necessidade de um calor humano quando vê tudo desabar, acaba aceitando meio que desconfiada o ombro amigo do cunhado. Gyllenhaal é a tradicional ovelha negra, sabe que seu pai o odeia e busca a redenção. Enquanto Maguire finalmente consegue aos poucos se distanciar da imagem do Homem Aranha, tem o papel mais desafiador: o cara que sempre seguiu um caminho certo na vida, mas que por um motivo, não consegue a ressurreição e voltar a ser o que um dia foi.

Jim Sheridam está cada vez mais se especializando em dirigir contos sobre relações familiares – “Em nome do pai” e “Terra dos Sonhos” são exemplos recentes – só que agora explorou como a guerra é capaz de destruir a vida de um indivíduo, não no sentido de sair atirando em inocentes ou tendo alucinações bizarras, mas na razão de bater forte naquilo que o homem tem de mais valor na sua vida: a família. O longa é uma refilmagem do dinamarquês “Brødre” de 2004.

Saiba mais sobre o filme Entre Irmãos.

Por Jean Garnier.

Comentários (0)





Nenhum comentário, ainda. Seja o primeiro a comentar!