Muitas vezes os filmes são instrutivos e (com ressalvas) fontes de conhecimento. Talvez muitos capítulos da história seriam completamente esquecidos caso algum cineasta ou escritor não trouxesse o assunto novamente à tona. Por outro lado, existem filmes que parecem e querem ser instrutivos, mas, além de não atingirem o objetivo, mascaram ou distorcem a realidade. Certamente este não era o intuito da roteirista e diretora
Angelina Jolie, mas...
Na Terra de Amor e Ódio é um filme sem contexto político. O que ficamos sabendo é que havia um paraíso, algo como a comunidade Smurf, onde sérvios, croatas e muçulmanos viviam em harmonia, até que um general malvado resolve conquistar terras para os sérvios e, daí, seguem-se atos de pura crueldade, como genocídio e estupro em massa (que, até então, não era considerado crime de guerra). No entanto, um pequeno detalhe foi esquecido: a antiga região da Bósnia e Herzegovina não vivia uma época de harmônica plenitude social.
É de conhecimento quase geral que
Jolie é Embaixadora da Boa Vontade do Alto Comissariado das Nações Unidas, além de fazer adoções em série por onde passa. Sendo assim, era esperado que o filme reunisse um conjunto de cenas chocantes (para perturbar o público e, quem sabe, convocá-lo para a ação) e sensíveis, o que de fato acontece. De violação a assassinatos crus (sem acompanhamento de trilha sonora), o filme nos desloca do conforto de mero espectador. Da perturbação à revolta, resta apenas um passo.
Os únicos momentos em que surge uma trilha são as cenas de drama. A inserção desse som, pobre e dispensável, nada mais faz do que tentar render alguma seriedade às péssimas atuações. Um filme de guerra com poucas lágrimas que convencem. Em meio a esse turbilhão de desastres, vemos, atrás das câmeras, o toque daquela
Jolie de
A Troca, a mulher e a mãe. A delicadeza com que o sexo feminino é retratado nessa produção revela a motivação do projeto.
Poderia, ainda que com todos esses defeitos, ser um filme razoável, mas não é. A inserção de um romance supérfluo e improvável (para não dizer impossível) só possui a função de desvio de foco. Uma cena inicial, que poderia tranquilamente ser um drama romântico, é encerrada por um “boom”. É agora que a Guerra da Bósnia entra em cena! Não. É agora que a Guerra da Bósnia vira mero contexto para um relacionamento que muda de rumo a cada novo capítulo.
Se o intuito era chamar a atenção para uma questão política que ocorreu em um tempo tão próximo e que, de certa forma, se arrasta até hoje, então o objetivo não foi alcançado. Se após assistir ao filme alguém for à Wikipédia para ler sobre o assunto, o mérito terá sido maior do que o esperado, caso contrário, o espectador poderá ir para casa com a sensação de ter visto um romance incomum e, certamente, macabro.
Utilizando uma fotografia e movimentos de câmera dignos de um entusiasta que acaba de concluir a graduação em cinema, o filme não apresenta nenhum detalhe técnico digno de louvor. Até mesmo os bons cenários e locações não foram bem aproveitados, pois tudo é acessório para o grande caso de amor.
Em sua estreia,
Jolie prova que é melhor como atriz. Seu legado certamente será muito maior se ela continuar investindo em ações voluntárias e deixar o papel de “causador de impacto” para cineastas menos românticos, sob a pena de acabar obscurecendo ainda mais os fatos reais.
Por Laísa Trojaike
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