O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus (1)

Publicada em 04/05/2010 às 17:14

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Mesmo tendo realizado filmes extremamente autorais, Terry Gilliam parece não conseguir se livrar do estigma que o acompanha desde os anos 70, de participante da série cômica de TV Monty Python como ator e cartunista. O mais surpreendente, nesse caso, é que seus trabalhos posteriores pouco remetem à veia cômica do programa, pois tendem mais para o surrealismo – especialmente em Medo e Delírio - e para ficção científica – Brazil – O Filme e Os 12 Macacos.

Seu novo filme, O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus, se enquadra no estilo que teve o pintor espanhol Salvador Dali como seu maior representante. Estilo presente, principalmente, no design do mundo imaginário, que conta com elementos de ilusão óptica, deformação do espaço e, principalmente, cores contrastadas e de pouco brilho, que muito remetem ao mundo dos sonhos.

Contudo, para azar do cineasta, o principal atrativo do longa não é seu visual deslumbrante, mas, sim, a tão comentada última aparição de Heath Ledger antes de sua morte prematura no meio das filmagens em janeiro de 2008. Para resolver esse infortúnio Terry Gilliam teve que revisar o script, e em seguida convidou três amigos (Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell) para completar as lacunas deixadas pelo falecido.

Não foi a primeira vez que aconteceu. Em Gladiador, o veterano ator Oliver Reed faleceu durante as filmagens, vítima de um ataque cardíaco. Por conta disso, Ridley Scott, diretor do longa, teve que usar um ator com características físicas parecidas nas cenas que faltavam e substituir, digitalmente, o rosto do ator. Outro exemplo clássico, coincidentemente em um filme de Luis Buñuel – maior cineasta surrealista - é Esse Obscuro Objeto de Desejo, no qual o autor usou duas atrizes (Carole Bouquet e Ângela Molina) para representar as oscilações de personalidade da personagem principal. Mas, para a sorte de Gilliam, o material deixado por Ledger serviu como uma luva para o filme e contribuiu para evidenciar, ainda mais, o mundo fantástico do Dr. Parnassus (Christopher Plummer), ao mudar a face do personagem quando está dentro do mundo fantasioso.

No entanto, quem espera uma grande atuação de Heath Ledger ou dos três ótimos atores substitutos provavelmente vai se decepcionar, já que Tony (personagem dos quatro atores) não é o protagonista da história – tanto que só aparece após os 15 minutos iniciais para formar um triângulo amoroso com Valentina (Lily Cole) e Anton (Andrew Garfield), deixando para Dr. Parnassus e Mr. Nick (Tom Waits) a condição de estrelas da trama por conta de seus excelentes diálogos, que parecem ter como referência a própria trajetória de Terry Gilliam, que, apesar de ter convivido com o fracasso, nunca abandonou seu estilo próprio, conseguindo atrair bons atores e altos investimentos para suas produções, embora trabalhos de difícil leitura para espectadores “desavisados”.

A atuação do australiano como o Coringa de Batman - O Cavaleiro das Trevas continuará sendo sua última grande performance no cinema, já que, em O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus, o ator teve pouco espaço para mostrar seu talento. No que diz respeito a película, aparentemente tinha potencial para ficar lado a lado com os principais trabalhos do diretor, mas a longa duração e narrativa demasiadamente lenta acabaram tirando um pouco do brilho desta estranha obra.

Saiba mais sobre o filme O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus.


Por Bruno Marques - http://brunocine.wordpress.com

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