Publicada em 18/03/2010 às 17:53
Falar sobre o caos social que vive a França contemporânea por conta do grande número de imigrantes que chegam ao país todos os anos, vindos principalmente de ex-colônias, parece ter se transformado na discussão predileta dos diretores daquele país. O sucesso recente Entre os Muros da Escola, vencedor da palma de ouro do festival de Cannes de 2008, e o novo filme de Constantin Costa-Gavras – Éden à Oeste, apresentam uma visão de dentro do problema, em uma guerra aparentemente invisível, travada entre cidadãos franceses e clandestinos.
Se o cenário de Entre os Muros…” era uma escola ginasial, e Éden à Oeste as ruas francesas, O Profeta (Un Prophète, 2009), dirigido por Jacques Audiard, foca no difícil cotidiano em uma prisão federal francesa, apresentando as regras e níveis hierárquicos que acompanham o confinamento de uma população tão heterogênea; tudo isto apresentado sobre o ponto de vista de Malik El Djebena (Tahar Rahim), um jovem de 19 anos, nascido na França, de pais árabes, condenado a seis anos de prisão por um crime não especificado, que sofrerá o pão que o diabo amassou para aprender como funciona as regras do presídio.
Diferentemente dos outros dois filmes, O Profeta não se prende na procura por soluções para o problema, se propondo apenas a oferecer entretenimento de qualidade ao público, apresentando a transformação do protagonista, inicialmente um pouco atraente marginal semi- analfabeto, em uma espécie de Tony Montana (protagonista de Scarface) Europeu, expondo a ascensão do jovem na cadeia, a partir de seu contato com Cesar Luciani (Niels Arestrup), um velho gangster de origem Corsa (ilha a oeste da Itália administrada pela França), que propõe proteção ao rapaz caso ele aceite matar um outro preso de origem árabe de nome Reyeb (Hichem Yacoubi), um homossexual, que por sua vez, oferece drogas a Malik em troca de sexo.
A partir deste conflito inicial toda a trama vai sendo costurada de forma engenhosa, segurando a atenção da platéia a cada novo rumo da história, a medida que a relação de Luciani a Maliki vai se estreitando. Tudo isto apresentado em um verdadeiro labirinto narrativo, auxiliado por títulos de capítulos e legendas que apresentam e dão destaque a determinados personagens secundários, exigindo olhos atentos para não se perder em meio a complexidade da história.
Revelar mais informações seria um verdadeiro desperdício, já que o maior atrativo de O Profeta é assistir aos desenlaces dos diversos embates da violenta trama.
Além do roteiro, os demais pontos positivos são as excelentes atuações de todo o desconhecido elenco, em especial Tahar Rahim, merecidamente vencedor do prêmio de melhor ator e ator revelação no último Cesar (principal prêmio francês) e Niels Arestrup, também vencedor do prêmio de ator coadjuvante, e o trabalho do departamento de arte na construção de cenários e maquiagem, todos extremamente convincentes.
Com a fita, Jacques Audiard, filho do roteirista e diretor Michael Audiard (ex-assistente de François Truffaut ), se torna um dos grandes nomes do cinema de ação Europeu, tendo recebido o Cesar de melhor diretor, o prêmio especial do júri no festival de Cannes de 2009 e a indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2010. Nada mal para um cineasta que realizou apenas 5 filmes.
Saiba mais sobre o filme O Profeta.
Por Bruno Marques - http://brunocine.wordpress.com
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