Os Descendentes

Publicada em 30/01/2012 às 21:39

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Um único gênero não deve definir uma história verdadeira. Utilizando-se de uma forte energia central e traçando duas retas paralelas, finitas e distintas, que acompanham a força motriz até os créditos finais, Alexander Payne revigora o seu poder de alquimista do comum e demonstra que, a partir de uma história de vida qualquer (mas bem escrita no roteiro) é possível extrair beleza, graça e dramaticidade sem expor qualquer visão de exagero. Ultrapassando, ao mesmo tempo, a linha invisível do que pode ser considerado conveniente, o cineasta promove um desconforto tão legítimo que se torna provável algumas situações que sugerem calafrios de nervosismo junto a Matt King (George Clooney).

Com as retas delineadas sendo tratadas de forma compassiva, Payne demonstra toda a comédia dura e corrompida que existe em um drama real (beirando o humor negro) e elucida, no desempenho fantástico do Clooney (desde sempre, em sua melhor atuação), todo o drama sufocado nos sorrisos (alforriados, às vezes, com certa atrocidade) do seu protagonista. O fator de tensão, essencial ao desenvolvimento, é a ação dos personagens. Cada decisão (e, não raramente, a falta de uma) demuda cena a cena, tornando as sequências imprevisíveis. Preparando o público para algo afetuoso e, em seguida, transformando o resultado em uma bomba, o diretor se faz de manipulador de mentes. Ao provocar o efeito contrário, causa um achaque que liga o público, instantaneamente, às figuras dramáticas tão palpáveis que são expostas.

Assim como Paul Giamatti, no excelente Sideways – Entre Umas e Outras, Clooney labora tal qual a peça que mantém um jogo vivo. Como um rei em um tabuleiro de xadrez, cada passo que dá é de forma contida (quando o é), situando protótipos agudos entre a causa da vida e a causa mortis (sempre em metáforas). Como o grande ator que categoricamente é, ele abre caminho para que todos os coadjuvantes, sem exceção, lampejem e, aqui, é necessário destacar a jovem Shailene Woodley, que interpreta a sua filha mais velha e rebelde (inicialmente e aparentemente sem causa).

Os Descendentes é, portanto, um filme maduro que se institui como mais um trunfo na bela filmografia do Payne. Além, estabelece-se como um dos melhores filmes feitos em 2011, ao conquistar com a simplicidade (que é somente ilusória), com atuações irrepreensíveis e com circunstâncias que podem (e necessitariam) lembrar Chaplin (e suas comédias tão impregnadas de angústia).

Os 115 minutos de filme soam como a cíclica trilha sonora (formada por músicas havaianas já existentes, abrindo mão de qualquer trilha sonora original – o que é de uma coragem admirável): é possível escutar o seu eco por algum tempo após o fim.

ps: Eu ficaria feliz, mesmo tendo a certeza de que não é o meu favorito àquela premiação política e corrupta do Oscar, ao ver tal longa levando algumas estatuetas para a estante.

Bons e ruins filmes para nós!

Saiba mais sobre o filme Os Descendentes.

Sihan Felix

 

Comentários (1)





isabella comentou: É um filme muito bonito,amei a performance do george como pai de família,todo sem jeito.Vale a pena assistir Nota
21/02/2012 | Responder