Salve Geral

Publicada em 26/04/2010 às 14:35

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Em maio de 2006, mais precisamente no fim de semana do dia das mães, o Brasil acompanhou perplexo a  uma das maiores provas de poder do crime organizado de nossa história recente, quando a facção criminosa PCC comandou diversos crimes na maior cidade do Brasil em resposta a transferência dos principais lideres da organização para presídios de segurança máxima no interior paulista.

Aproveitando este cenário dramaturgicamente rico, Sérgio Rezende (diretor de Zuzu Angel) elaborou o roteiro que viria se transformar em Salve Geral (2009), uma fusão entre ficção e realidade, que apresenta três diferentes pontos de vista  do estado de sítio.

Estes três núcleos dramáticos são formados pelo comando da polícia, pelo “partido” ou liderança criminosa e pela população civil. Sendo a última representada  por Lúcia (Andrea Beltrão), uma professora de piano,  determinada a tirar seu filho Rafael (Lee Thalor) de trás das grades,  preso em flagrante por homicídio durante uma  corrida clandestina.

Mesmo sendo  um roteiro de ficção, Salve Geral anda de mãos dadas com a realidade, já que apresenta  uma dentre as muitas possibilidades que justificariam as ações criminosas . Sendo verdade ou não, o que importa, de fato, é o salve (recado) dado pelo cineasta, ou seja,  somente em um sistema penitenciário falido, comandado por autoridades corrompidas, seria possível criar um cenário como aquele de 4 anos atrás.

A produção em si não acompanha o mesmo capricho do roteiro, visto que a trama muitas vezes aparenta ser “maior” que o orçamento do longa, resultando em deslizes na direção de arte, principalmente por conta da caracterização da cidade de São Paulo, que não aparenta estar passando pelo caos que serve como pano de fundo para as ações. Outro efeito colateral da aparente falta de dinheiro  fica por conta do fraco elenco de apoio, bem abaixo dos protagonistas, que por sua vez conta com  Andrea Beltrão e Denise Weinberg, que vive a vilã Ruiva,  em atuações inspiradoras.

Outra boa impressão deixada pelo longa é sua trilha sonora assinada por Miguel Briamonte, remetendo ao universo macabro de Alfred Hitchcock, sendo a peça fundamental para criar o clima de tensão que a trama necessitava.

Muito se falou da apologia ao tráfico de drogas e da recorrência de tramas violentas levadas as telas pelo cinema nacional. Nenhuma das duas críticas são justificáveis, a primeira, inclusive, só pode ter sido dada por pessoas que não deram a atenção que a fita merecia. Já a segunda poderia se enquadrar em  obras como Ônibus 174 e Tropa de Elite, porque realmente vivemos uma fase do cinema nacional em que apostar em violência é apostar em boa bilheteria, entretanto o filme de Rezende passa longe do discurso raso, já que vai fundo nas origens dos fatos, tendo muito cuidado em não apontar mocinhos e  bandidos, ou propor soluções ingênuas.

Talvez maior problema de Salve Geral  tenha sido sua indicação como representante brasileiro  ao Oscar, o que despertou muitas expectativas que a película não pode preencher, já que  não faz parte do modelo pirotécnico hollywoodiano, pelo contrário, se trata de uma obra para aqueles interessados em assistir uma séria exposição dos graves problemas do sistema penitenciário  nacional, sem deixar que tiros e explosões desviem o foco da discussão.

Saiba mais sobre o filme Salve Geral.


Por Bruno Marques   ([email protected])

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