Cinco atores que reinventaram a própria carreira

Publicada em 14/05/2016 às 20:45

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Kristen Stewart

Quando passou pelo tapete vermelho do 69º Festival de Cannes na última semana, a atriz americana Kristen Stewart  parecia encerrar definitivamente um ciclo de filmes ruins e humilhação pública com que ficou conhecida durante a última década. Sim, os filmes da saga Crepúsculo podem ter sido sucesso de bilheteria, mas a atriz, com seus maneirismos vazios e inexpressividade quase cômica, ficou marcada como uma adolescente pouco talentosa, pouco interessada e pouco capaz de trabalhar sério.
 
Até que ela mudou. Kristen começou a aparecer em papeis menores, em filmes menores, menos populares, mais complexos, menos óbvios, mais trabalhosos. Pouco a pouco, os filmes em que aparece deixaram de ser apenas um veículo para ela e passaram a ser filmes bons onde Kristen Stewart mostra que é capaz. Em 2014 ela esteve em dois ótimos filmes: Acima das Nuvens e Para Sempre Alice.
 
Por Acima das Nuvens, de Oliver Assayas, tornou-se a primeira atriz americana a ganhar o César, prêmio de atuação que equivale ao Oscar, na França. Pronto, com a aprovação dos exigentes franceses, ela seguiu de cabeça erguida rumo a uma carreira mais digna e uma atitude cada vez mais "dane-se o comercial". Neste ano, além de Café Society, de Woody Allen, Stewart está em Cannes com o filme Personal Shopper, também de Assayas.
 

Ryan Reynolds

Ryan Reynolds conseguiu engatar um filme desastroso atrás do outro por muitos anos. Era até difícil saber como ele ainda conseguia trabalho depois de coisas como X-Men Origens: Wolverine, quando apareceu pela primeira vez como Deadpool, mas de uma forma constrangedora. Comédias ligeiras como A Proposta, e grandes produções como RIPD - Agentes da Lei e Lanterna Verde, jogavam mais terra sobre a cova de sua credibilidade...até que ele começou a acertar.

Em 2014 um pequeno filme independente chamado The Voices deu a Ryan a chance de fazer o que sabe melhor: ser esquisito. A impressão que temos é que, na Hollywood onde tudo é negócio, Reynolds estava na prateleira errada, sendo vendido da forma errada. Sim, com 1,90m, musculoso e bonitão, o ator não conseguia mostrar seu lado bizarro, inteligente, afiado, debochado e ultrajante. Em Mississipi Grind ele trabalha melhor ainda, como um jogador compulsivo.

E, em 2016, é claro, Deadpool chegou para dizer "Parece que o jogo virou, não é mesmo?" na carreira de Reynolds. Aos 39 anos, o canadense agora está na prateleira certa e tem tudo para continuar lá, acertando todas. 

Robert Downey Jr.

Aos 51 anos, Robert Downey Jr. sabe o que é descer ao fundo do poço e sair de lá maior, melhor e sem restrições. Há cerca de 15 anos ele foi preso ao ser encontrado desacordado em uma casa que havia invadido no meio da noite. Downey Jr. já havia passado por inúmeros ciclos de reabilitação, melhora e recaída.
 
Assim como muitos atores que começam muito jovens, ele parecia condenado a ser encontrado morto por overdose em algum quarto triste de hotel. Mas de alguma forma, evitou que isso acontecesse. Em entrevistas sobre o assunto, o ator diz que apoiou-se em sua família, na meditação e nas artes marciais para manter o corpo e a mente sãs. A partir de 2005, sua carreira voltou aos trilhos com filmes como Beijos e Tiros e Boa Noite e Boa Sorte. A sensação de quem o via nesses filmes era comovente: ele é tão bom, será que ele aguenta permanecer limpo e continuar trabalhando?
 
Contando quase 15 anos de sobriedade, Downey Jr. não apenas aguentou como se tornou provavelmente o maior astro de cinema da última década. Em 2008, foi o Homem de Ferro, papel que interpreta nos filmes dos Vingadores e Capitão América: Guerra Civil. Foi indicado ao Oscar pela comédia Trovão Tropical e em 2013, 2014 e 2015 foi o ator mais bem pago do mundo. Um renascimento de fazer inveja à fênix. 
 

Scarlett Johansson

Assim como Kristen Stewart, Scarlet Johansson viu sua fama aumentar conforme sua credibilidade como atriz diminuía. Suas primeiras aparições em bons filmes foram em Ghost World e Encontros e Desencontros, onde ela aparecia mais como uma moça bonita e pensante, alguém sensível e integrado à história.

Apesar do início promissor,  sua carreira desandou, ao menos no que diz respeito à qualidade. Johansson tornou-se um torso, uma boca, um rosto. Seus personagens em produções como Match Point, A Ilha e Dália Negra eram "viagras" ambulantes, dando à atriz muito pouco além de decotes profundos e falas ofegantes. Não que a atriz seja uma mera vítima de uma Hollywood machista, ela provavelmente fez um bom pé de meia interpretando pedaços suculentos de carne.

Mas a partir de Ela, onde empresta sua voz para o software por quem o protagonista se apaixona, Johansson parece mais determinada a trabalhar bem, mesmo que isso inclua não mostrar tanta pele quanto estamos acostumados a ver. Em Sob a Pele, por exemplo, ela interpreta uma alienígena que usa seu corpo para seduzir vítimas que serão devoradas por uma entidade sem forma definida. Parece ser nesse filme que ela ironiza o uso e abuso do próprio corpo e inicia uma fase mais complexa de sua carreira. 

Bill Murray 

Bill Murray talvez seja o melhor exemplo do que é redefinir a própria carreira. Sem renegar o passado, o ator conseguiu deixar uma série de filmes irrelevantes para trás e, mesmo tendo o vergonhoso Garfield no currículo, tudo o que toca parece ganhar graça, ficar mais cool.

Nos anos 90 ele andava faazendo coisas como Kingpin - Esses loucos Reis do Boliche e Space Jam - O Jogo do Século, raspando o fundo do tacho de seu humor cínico, quando um jovem diretor surgiu em seu caminho: Wes Anderson. Em Três é Demais, de 1999, Murray interpreta um milionário entediado, traído pela esposa, odiado pelos filhos odiáveis, que se apaixona por uma professora e disputa a atenção da moça com um estudante.

O papel deu o tom que Murray seguiria a partir de então: melancólico, auto-depreciativo, descontente, mas determinado. A parrceria com Anderson é tão forte que, mesmo que seja em pontas, o ator está presente em todos os seus filmes. Outros títulos de destaque nos últimos 15 anos de sua carreira incluem, claro, Encontros e Desencontros, Flores Partidas e Segredos de Um Funeral

Por Fabíola Cunha


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