Crítica | A Despedida fala sobre a morte com uma trama cheia de vida

Quando a família de uma senhora descobre que ela possui pouco tempo de vida, eles decidem não informá-la sobre o diagnóstico, escolha bastante comum na China. Enquanto isso, os filhos e netos arranjam um casamento improvisado para que todos consigam visitá-la pela última vez.

Dirigido e roteirizado por Lulu Wang, que se inspirou em fatos reais da própria vida, o filme aborda os conflitos familiares, a distância e as diferenças entre gerações. Vemos tudo pelos olhos de Billi (Awkwafina), que é a neta caçula super próxima da avó, mesmo morando do outro lado do mundo.

Um dos pontos mais interessantes de A Despedida é sua atemporalidade e a capacidade de discutir temas universais. Embora seja a história de uma família chinesa, as questões são tão bem exploradas que qualquer pessoa pode se identificar e refletir, ultrapassando as barreiras da cultura e da linguagem.

Para um filme sobre a morte, a trama é cheia de vida. Risadas sinceras, lágrimas contidas, tradições, saudade e admiração. Pessoas com muitas opiniões e destinos diferentes se unem para viver ao máximo os últimos momentos da matriarca que inspira a todos eles, além do lindo afeto entre uma avó e sua neta.

De forma sensível e poética, a obra deixa de lado seu "potencial" mórbido e se torna uma verdadeira celebração da vida, mostrando a dor e a calmaria do inevitável. A direção de Wang entrega momentos visualmente incríveis que também ajudam a contar a história com cenas que dispensam diálogos.

Nas atuações, todos estão muito confortáveis em seus papéis e o grande destaque é, sem dúvida, a Awkwafina. Descendente de chineses e já conhecida pelas suas participações em filmes de Hollywood, ela é uma atriz responsável que exprime todos os níveis dessa dramédia surpreendente e realista.

A Despedida não traz nenhum tema novo, mas a beleza utilizada para falar da questão mais inevitável de nossa existência é totalmente única.

Por Samanta Renck de Carvalho