Os filmes de High School Musical são bons mesmo?

Publicada em 04/07/2021 às 08:44

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Os filmes de High School Musical são bons mesmo?
Foto: Divulgação/Walt Disney Channel

Como quase toda criança/adolescente dos anos 2000, eu vivi a febre High School Musical. Não lembro quando vi o filme pela primeira vez, exceto que por uma de suas exibições pela televisão aberta — na época, TV a cabo era longe de ser uma realidade para mim: nada de Disney Channel em casa! — e, posteriormente, assisti às sequências em DVD.

Confesso, no entanto, que eu gostava mais das músicas do que dos filmes em si, então reprisei o show inúmeras vezes — ainda que o galã Zac Efron tenha sido substituído por Drew Seeley nos palcos — e, mais vezes ainda, revi os trechos do filme com minhas canções preferidos no YouTube. Sabendo todas as letras, mas com memórias quase nulas sobre o roteiro em si, resolvi rever a trilogia neste final de semana, através do Disney+

Como foi a experiência? Melhor do que eu imaginava, e compartilho alguns spoilers com vocês logo abaixo.

High School Musical (2006)

O ato de abertura dessa trilogia é um projeto que pode ser bastante ambíguo: como filme televisivo, ainda que para o Disney Channel, traz atuações novelescas de um Zac Efron e uma Vanessa Hudgens ainda muito inexperientes — e em um roteiro clichê que não coopera muito para performances mais brilhantes. 

Isso é algo ruim? Não exatamente. O filme cumpre com o seu propósito de entreter os espectadores com uma história feita na medida certa para o público mais jovem, músicas viciantes e um elenco repleto de gatinhas e gatões que ajudaram a tornar a franquia um sucesso financeiro ainda maior — como as inúmeras revistas vendidas a rodo para garotinhas como eu que queriam ter o rosto de Zac Efron em seus quartos.

Algumas cenas, entretanto, dão um pouco vergonha alheia, principalmente quando os surtos de Sharpay (Ashley Tisdale) estão envolvidos. Mas, sinceramente, a termos de atuações, High School Musical ainda é muito melhor que o posterior Camp Rock (2008), essencial para a carreira de Demi Lovato e dos Jonas Brothers, mas embaraçando os artistas em cena. 

Os filmes de High School Musical são bons mesmo?
Foto: Divulgação/Walt Disney Channel

Ainda no quesito de elenco, High School Musical tem bastante representatividade para um filme dos anos 2000. Os protagonistas são brancos e héteros, sim, mas a diversidade do time de apoio é muito importante para a época. A própria atriz Monique Coleman, que interpreta a Taylor McKessie, já falou sobre a honra que foi ter sido participar do projeto:

“Sou muito grata por ter sido capaz de levar representatividade em um momento em que não havia muita, e estou muito feliz quando vejo essa próxima geração de jovens artistas e há muito mais espaço para pessoas de cor. Isso significa muito para mim, especialmente porque Taylor é uma personagem dinâmica e a pessoa mais inteligente da escola, e tudo isso em uma época em que, muitas vezes, as personagens de garotas negras tendiam a ser aquelas que tinham uma personalidade forte ou eram atrevidas. E eu apreciei que não era por isso que as pessoas amavam a Taylor. Eles a amavam porque ela era inteligente e empática. E definitivamente significa muito para mim que as pessoas a vejam”.

Esse foi o filme que eu assisti mais vezes durante a infância e do qual tinha as memórias mais frescas, ainda que talvez sem tantos detalhes, como a cena em que Chad Danforth (Corbin Bleu) e Taylor armam para separar Troy e Gabriella, o que acaba acarretando uma boa história para o filme, sim, apesar de ser de péssimo tom. Felizmente os personagens dão a volta por cima!

Os filmes de High School Musical são bons mesmo?
Foto: Divulgação/Walt Disney Channel

E frente aos debates recentes sobre Sharpay e Gabriella, Evans ainda é, sim, a vilã da história. Gabriella pode não ser uma personagem perfeita, com sua indecisão e audições de última hora ao lado de Troy, desrespeitando as regras do teatro musical que são tão importantes para Sharpay. No entanto, nada disso dá a Sharpay o direito de ser tão malvada, egocêntrica e trazer rivalidade feminina para a cena. Mas difícil mesmo seria um filme com patricinhas não ter isso, né? Nada fora do esperado.

O mais decepcionante, talvez, seja o brilhante Ryan Evans (Lucas Grabeel) ser apenas uma peça a mais no tabuleiro de Sharpay, com qualquer possibilidade de autonomia e personalidade ofuscadas pelo brilho exagerado de sua irmã, mas ainda temos outros dois filmes pela frente para que isso mude. 

High School Musical 2 (2007)

Devo ter visto esse ficou duas ou três vezes na infância, no máximo. Com uma memória marcada por What Time is It? e Fabulous, sabia que a história se passava nas férias, mas não lembrava dos acontecimentos específicos e redescobri-los foi uma surpresa extremamente positiva. 

O filme coloca em xeque todo o egoísmo de Sharpay, que usa a necessidade de Troy de ir para a faculdade para se aproximar dele, fazendo o inferno na terra na vida dos amigos dele, principalmente de Gabriella, e se afastando até mesmo de seu irmão, Ryan — personagem esse que se revela como o verdadeiro destaque do segundo filme, uma peça essencial para resolver as besteiras feitas por Sharpay.

Os filmes de High School Musical são bons mesmo?
Foto: Divulgação/Walt Disney Channel

Se no primeiro HSM o Ryan era apenas um capacho de sua irmã, neste segundo ele vive uma revolução ao descobrir mais sobre sua personalidade, sobre o que ele gosta de fazer e quais pessoas ele quer por perto.

Mesmo sabendo que isso resultaria em chiliques de sua irmã, ele age conforme seus próprios desejos e faz a coisa certa — o que a própria Sharpay também reconhece ao final, ao dar o troféu Estrela Fascinante para ele, responsável pelo principal ato musical da noite, deixando de lado as coreografias ostensivas para uma performance focada na voz e com direto a um coral quase religioso. 

Com Ryan, Sharpay e Troy liderando o roteiro deste filme, a protagonista Gabriella poderia ter se tornando uma personagem secundária, usada no roteiro apenas como parte do plano maligno de Sharpay e o "freio" necessário para fazer com que Bolton não se esqueça de suas origens enquanto experimenta o mundo dos ricos. 

No entanto, a personagem não se deixa cair por estereótipos tão frágeis, mostrando também uma personalidade forte ao bater de frente com o que acha injusto. Ela é uma garota boa e sabe que não deve aceitar migalhas dos outros, embora seu excesso de confiança nos outros também a torne manipulável em alguns aspectos — e isso nem de longe é um erro de roteiro: só a torna mais humana e identificável. 

High School Musical 2 se tornou o meu filme preferido da trilogia.

Os filmes de High School Musical são bons mesmo?
Foto: Divulgação/Walt Disney Channel

High School Musical 3 (2008)

Depois de dois filmes e dois anos, as coisas estão muito melhores na East High.

As atuações do elenco estão em uma qualidade superior, sendo é nítida a evolução de Zac Efron, que parece mais confortável e expressivo dentro do corpo de Troy Bolton. Sharpay ainda é exagerada, mas seus traços são menos “cringe” que nos longas anteriores, com Tisdale assumindo uma posição de patricinha metida sem se deixar necessariamente cair em uma comicidade desnecessária. Mas se tem algo que Sharpay sabe fazer, é uma performance de qualidade.

Com o orçamento mais alto da trilogia, os atos musicais também passam a serem mais atrativos: I Want It All traz uma variedade incrível de cenários, exibindo toda a versatilidade musical dos irmãos Evans como um verdadeiro clipe, com direito a trocas de figurinos a cada corte, incontáveis dançarinos de apoio e uma coreografia complexa digna do tão sonhado e citado Madison Square Garden.

Os filmes de High School Musical são bons mesmo?
Foto: Divulgação/Walt Disney Channel

É perceptível, ainda, que houve uma preocupação estética a mais: os penteados e figurinos estão muito melhores do que nos filmes anteriores, deixando os personagens ainda mais bonitos do que o habitual. 

O desenvolvimento também se dá em seus personagens, com Sharpay provando do próprio veneno para um arco de rendimento final e Ryan, evoluído pelos eventos de High School Musical 2, demonstra maior controle em sua própria vida. Chad, que quase passou despercebido nos filmes anteriores, também ganha um pouco mais de destaque neste momento final, principalmente por sua bela relação com Troy. 

A trama de romance no último ano do colegial é bastante clichê, com a já batida fórmula do "ai meu Deus, o que será de nós na faculdade?", mas o filme conegue dar uma boa saída com as decisões dos personagens, em especial de Troye. A decepção talvez seja, novamente, a falta de protagonismo de Gabriella, cujas ações não são tão maturas quanto eu me lembrava da época em que o filme foi lançado. 

Até mesmo o final de Sharpay foi digno: ela não conseguiu a bolsa que queria, mas Ryan de fato mereceu a vaga mais do que ela. Além disso, Sharpay ainda ganhou o seu próprio filme solo pouco mais tarde, dando continuidade à sua história e tendo o protagonismo que ela tanto sonhava. Tudo, por fim, acabou bem.

Os filmes de High School Musical são bons mesmo?
Foto: Divulgação/Walt Disney Channel

High School Musical 3 é um grande filme final, não só por trazer um desfecho condizente com a história desenvolvida ao longo de três anos, o que já era essencial, mas principalmente por elevar o nível da franquia. Em sagas como essas, é comum que o primeiro filme seja bom e, os demais, apenas produtos medianos servidos para continuar arrecadando dinheiro dos fãs, mas High School Musical conseguiu amadurecer e evoluir em cada projeto, entregando um último filme de grande qualidade. 

Então, se a pergunta era se os filmes de High School Musical são mesmo bons ou se fomos apenas enganados por memórias nostálgicas, eu respondo: eles são ainda melhores do que você se lembra! 

Leia mais sobre High School Musical no Cinema10.

Por Karoline Póss


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