Dino Cazzola - Uma Filmografia de Brasília estreia sexta-feira

Publicada em 26/11/2012 às 12:49

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Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília estreia nos cinemas de São Paulo, Brasília e Juiz de Fora (MG) na sexta-feira, dia 30 de novembro. Dirigido e produzido pela historiadora e pesquisadora Andrea Prates e pelo cineasta Cleisson Vidal, o longa é fruto de um extenso trabalho de imersão no acervo filmográfico reunido por Dino Cazzola sobre o nascimento de Brasília. 

A produção já participou com sucesso dos festivais É Tudo Verdade (São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília- 2012), Cine OP (Ouro Preto- 2012), Festival do Rio (Rio de Janeiro- 2012) e Recine - Festival Internacional de Cinema de Arquivo  (Rio de Janeiro-2012).
 
Considerado um dos precursores na filmografia jornalística da capital federal, Cazzola esteve presente na cidade desde a sua construção. O documentário resulta da análise de 3.287 rolos de filme com aproximadamente 300 horas de material gravado entre as décadas de 60 e 70.  
 
A realização do longa durou cinco anos entre pesquisa, produção, digitalização, filmagem e montagem e foi viabilizado por meio do patrocínio do Programa Petrobras Cultural e por meio do apoio do Ministério da Cultura e da Agência Nacional do Cinema - Ancine. Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília teve consultoria do restaurador Francisco Moreira, com montagem de Lea Van Steen e trilha sonora original composta por Iura Ranevsky, consagrado violoncelista, professor da escola de música da UFRJ (RJ).
 
"Transformar o caos em uma história para dar visibilidade ao acervo e mostrar a necessidade de preservar o material ainda recuperável foi o ponto de partida para o documentário", revela Andrea Prates. "A nossa primeira visão do acervo do Dino era de equipamentos de filmagem, arquivos de aço, caixas e mais caixas de papelão e centenas de latas de filmes com claros sinais de deterioração. Rótulos lidos ao acaso indicavam a extensão do 'tesouro' ali guardado: 'Construção do Eixo Norte-Sul'; 'Discurso Tancredo Neves 1961'; 'Construção da Catedral de Brasília'; 'JK caminhando pelas obras de Brasília'", entre outros, descreve a diretora.
 
As mais de 500 latas foram guardadas por Dino no sótão de sua casa e estima-se que 70% do material foi perdido pela falta de infraestrutura para garantir sua preservação. No acervo, além das imagens de autoria de Dino, também foram encontradas outras de cinegrafistas anônimos. Destacam-se, entretanto, as imagens feitas pelos cinegrafistas mineiros José Silva e Sálvio Silva. Pioneiros no registro filmográfico da cidade, José e Sálvio foram contratados pela Novacap (empresa estatal responsável pela construção de Brasília) para gravar o andamento das obras. O material era veiculado nos cinejornais por todo o Brasil como propaganda do governo de Juscelino Kubitschek.
 
Sobre o material analisado, o diretor Cleisson Vidal afirma: "Em um acervo tão grande, com cerca de 300 horas, exaltar certas imagens é em certo ponto temerário, pois cada pessoa que olhar esse acervo valorizará a tônica de sua busca. A mim foi impressionante ver depoimentos de Juscelino Kubitschek, inéditos e pouco vistos. Há muita coisa, como imagens do Teatro Nacional, em total abandono e toda a parte de remoção de favelas do Plano Piloto para a Ceilândia". Para o diretor, “o documentário vai além do tempo presente. É obra que também serve de conhecimento, reflexão crítica e aprofundamento de temas".
 
 
"Vamos filmar para a história", dizia Dino Cazzola
 
Dino Cazzola nasceu em 1932 na cidade de Broni, na Itália, onde já registrava os horrores da 2º Guerra Mundial, como revelam imagens encontradas em seu acervo. Sua vinda para o Brasil deu-se por meio do contato com os pracinhas brasileiros. Encerrado o conflito, Dino chegou ao país, em 1959, como se fosse um militar brasileiro que perdera os documentos.  
 
Apoiado em testemunhos de familiares e cinegrafistas que acompanharam a trajetória de Dino, o filme destaca seu filho, Júlio Cazzola, que relata a ligação do pai com a Capital Federal: "Ele criou um amor pela cidade pelo fato de ter visto Brasília nascer, em contraposição à perda que sofreu na Itália, quando viu sua cidade totalmente destruída". 
 
Evilásio Carneiro, cinegrafista, descreve como Brasília estava quando Dino chegou: "Ele pegou muita coisa já em pé, mas muita coisa começando...". Já Dona Quitita, viúva de Sálvio Silva, cinegrafista que trabalhou por muito tempo ao lado de Cazzola, afirma: "Brasília era aquela terra de ninguém e, ao mesmo tempo, terra de todo mundo".  Paulo Guerra, cinegrafista que também trabalhou com Dino, conta que o produtor era um visionário e acreditava na importância dos filmes como registro histórico, se mostrando um verdadeiro apaixonado pela cidade. "O Dino me dizia: ‘Vamos filmar para a história!’", relembra Guerra.
 
 
De JK a Médici e da TV Brasília a Prodic, primeira produtora de Brasília
 
Dino trabalhou na TV Brasília produzindo imagens que mostravam o centro do poder: viu passar pelo planalto os presidentes Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart. Imagens mostram os sinais de um futuro sombrio: JK se despede do País e começam os anos de chumbo; assume, em 1964, o general Castello Branco e, em 1967, Costa e Silva; instaura-se o AI5, suspendendo as garantias constitucionais, e a Universidade de Brasília é invadida. 
 
Os jovens representavam um perigo para o regime, como lembra o artista plástico Xico Chaves: "por isso eles achavam que era preciso eliminar a juventude idealista que queria construir um país novo... e assassinaram, empurraram pra clandestinidade! Foi uma estratégia. Uma vil estratégia!". 
 
O momento era da censura e da propaganda militar pesada. "Dino foi um dos poucos cinegrafistas que filmaram o fechamento do Congresso, mas a direção da TV Brasília, na época, não conservou o material e o jogou no lixo", relembram os cinegrafistas Joaquim Nascimento e Paulo Guerra.
 
Cazzola saiu da TV Brasília e criou a Prodic, a primeira produtora da Capital Federal. Passou a fazer imagens e também a distribuí-las para as principais emissoras do país, além de produzir peças publicitárias para o governo. Na era Médici, o país vivia a alegoria do desenvolvimento acelerado e a euforia da conquista da Copa de 70.  
 
Exilados retornaram ao país, e Dino registrou a polêmica entrevista do músico Geraldo Vandré ao desembarcar no aeroporto de Brasília. Os cinegrafistas Evilásio Carneiro, Paulo Guerra e o jornalista Geneton Moraes Neto dão as suas versões do material que sumiu. A produtora foi invadida e o material, roubado. Sobre esta época, Julio Cazzola revela: "Quem nasceu em um regime de exceção acha tudo normal".
 
Em paralelo, o filme também mostra o esforço para recuperar o acervo com o restaurador Francisco Moreira analisando as películas. Seu testemunho reforça o estado de degradação encontrado: "Na verdade, você não tem mais filme, você tem um borrão de imagem irrecuperável". Moreira é um dos mais experientes profissionais na recuperação de filmes, trabalhou por mais 20 anos na Cinemateca do MAM (RJ), onde foi curador de preservação, além de ter estudado na Staatliches Filmarchiv der DDR, na então Alemanha Oriental, no Service National des Archives du Film, na França, e na UCLA Film and Television Archives, nos Estados Unidos.
 
Uma locução em off do próprio Dino que faleceu em 1998, aos 66 anos, descreve sua preocupação com a importância e preservação do registro histórico: "O meu maior sentimento, o que mais sinto, é que Brasília, com menos de um quarto de século de idade, tenha menos provas, menos documentos históricos do que Roma que foi fundada há quase três milênios."
 
 
Os diretores e a Terra Firme Produções
 
 
Este é o segundo longa codirigido por Andrea Prates e Cleisson Vidal: em 2005, lançaram Missionários, documentário sobre uma banda de rock formada por detentos de uma penitenciária no Rio de Janeiro. Naquele ano, o filme participou dos festivais: É Tudo Verdade (São Paulo), Fórumdoc BH (Belo Horizonte), Festival do Rio e Mostra do Filme Etnográfico (Rio de Janeiro). 
 
Andrea Prates - Historiadora de formação, Andrea é natural de Brasília. Desde 1984 é pesquisadora do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN/MinC.
 
Cleisson Vidal - Nascido em Minas Gerais, graduou-se em Análise de Sistemas, Comunicação Social e fez pós-graduação em História da Arte. Começou a carreira como assistente de câmera em documentários e vídeo clipes. Em 2003, teve sua primeira oportunidade como diretor de fotografia no documentário Evandro Teixeira - Instantâneos da Realidade, do diretor Paulo Fontanelle. A partir daí, fotografou nove longas- metragens de documentário e cinco curtas de ficção.
 
Entre seus trabalhos estão Migrantes - codireção com Beto Novaes (2008); A Rota do Pescado (2009); Juventudes Sulamericanas – Diálogos (2009), Sob o Verde da Memória (2011) e Helena Comprimida (2012). Cleisson também fez a direção de fotografia dos documentários Hysteria e Artur Omar, de Evaldo Mocarzel (ambos em fase de pós-produção). Em 2007 criou a Terra Firme Produções para transformar em documentários suas pesquisas e questionamentos sócio-culturais.
 
Terra Firme Produções - A Terra Firme Produções é uma empresa com foco na produção de documentários independentes de perfil sócio-cultural. Também possui um núcleo para a produção de séries de ficção. Há cinco anos no mercado, já produziu dois longas-metragens e quatro médias-metragens. A produtora também realiza uma parceria com a TV ONU de Nova York para a produção de reportagens especiais sobre violações dos direitos humanos na América do Sul para o programa Século 21.
 
Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília
 
Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília
 
Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília
 
Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília
 
Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília
 
Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília
 
Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília
 
Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília
 
Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília
 
Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília
 
Saiba mais sobre o filme Dino Cazzola – Uma filmografia de Brasília.
 
As informações são da acessoria de imprensa do longa.
 
Por Laísa Trojaike

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