A parceria entre Brasil e Portugal é a salvação da industria cinematográfica e audiovisual lusa neste momento de crise. Esta foi a mensagem que a comissão de produtores e diretores que integram a mostra Imagens de Portugal, uma das principais desta edição do Festival do Rio. São 32 títulos divididos em quatro nichos: a produção recente, uma retrospectiva do cineasta Manoel de Oliveira, outra do cineasta João Pedro Rodrigues (longas e curtas metragens) e uma seleção de curtas do festival de Vila do Conde, cidade praiana ao Sul do país, onde anualmente se realiza um festival deste gênero.
Os portugueses deram uma entrevista coletiva nesta quarta-feira, 3 de outubro, para falar dos filmes que trouxeram e dos que esperam realizar em parceria com o Brasil. A mostra Imagens de Portugal abre oficialmente hoje, com a sessão de gala do filme Tabu, de Miguel Gomes, vencedor dos prêmios Alfred Bauer de inovação e da crítica no Festival de Berlim 2012. Agala está marcada para as 19h15, no Cine Odeon Petrobrás.
"O acordo entre os dois países tornou mais fáceis as relações comerciais, mas só um acordo não é nada. O que possibilita a realização dos filmes é o bom entendimento e o conhecimento um do outro", afirmou Ilda Santiago, diretora do Festival, que participou da coletiva.
Alexandre Oliveira, produtor de Filme do Desassossego, adaptação de João Botelho de Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, disse ter uma obsessão por adaptar livros impossíveis e que agora quer fazer Os Maias. "O Brasil vai ser um parceiro imprescindível, pelo amor que o brasileiro nutre por Eça de Queiros. Estamos divulgando aqui oficialmente o começo dessa aventura", anunciou Oliveira. João Figueiras, produtor de A última vez que vi Macau espera que as coisas comecem a melhorar e a se resolver em Portugal, para que o cinema possa voltar a avançar. "Quem sabe daqui a dois anos estaremos fazendo Os Lusíadas", sugeriu.
Além da parceria com o Brasil, a grande esperança do cinema português é o talento de jovens cineastas, como é o caso de Miguel Gomes, diretor de Tabu, que promete ser um grande sucesso da história da produção local. Segundo Luis Urbano, produtor do filme, será talvez o filme português mais vendido de todos os tempos. "Sou muito grato ao Brasil, pois quando o filme saiu em Berlim, Portugal estava tão afundado na crise que nem enviamos uma comissão à Alemanha, e os brasileiros assumiram o filme como produção sua e o representaram com muita força no festival", comentou Urbano, que disse, ainda, que seu filme foi "um exemplo de como uma coprodução deve funcionar". "Não é uma solução definitiva, nem pode ser, é uma alternativa muito boa, que devemos continuar explorando, mas o cinema português não pode morrer. Temos a língua em comum e a possibilidade de juntos alargarmos a busca por recursos, mas o cinema português tem que ser feito em Portugal. O Brasil é um grande parceiro nosso no momento, tem nos ajudado muito e sou imensamente grato, mas a salvação e o futuro do cinema português passa por Portugal", afirmou ainda.
Outra obra importante dentre os 32 filmes portugueses que estão em cartaz no Festival são os 8 curtas-metragens produzidos pela cooperativa dirigida por Dario Oliveira, a Agência da Curta Metragem, entre eles O milagre de Santo António. Sua agência organiza há 20 anos o Festival Curtas Vila do Conde. No último ano, Oliveira e seus parceiros produziram 12 curtas. “Só conseguimos fazer tantos filmes por ano porque é um esquema completamente diferente do tradicional , numa escola de cinema, com uma equipe técnica jovem e muito rápida, e os diretores são convidados de fora, e se encantaram pelo grupo e concordaram em fazer”, explicou o produtor.
Oliveira aproveitou a oportunidade para divulgar seus curtas, que segundo ele estão "diluídos em meio a tantos grandes filmes". "Produzir curtas ao lado de nomes tão grandes que temos aqui ao lado nos deixa um pouco em desvantagem, por isso faço esse apelo, estou na luta pelo meu formato", disse. Oliveira manifestou sua admiração pelo filme produzido pelo colega Luis Urbano: "Tabu é o filme mais bonito da historia de Portugal desde Manoel de Oliveira".