Fim de Semana 10: Da Terra à Marte

Publicada em 08/11/2013 às 14:37

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Há pouquíssimo tempo, cerca de três meses, uma empresa privada norte-americana anunciou o lançamento da primeira campanha humana ao planeta Marte. O que confundia-se com ficção, imposta pelos limites de nossas tecnologias, provou-se perto da realidade – e mais dela se aproxima, a cada notícia sobre a convocação dos tripulantes, ou sobre a viabilidade do projeto, que vêm as mídias divulgando.
 
Se, antes, os filmes de viagens espaciais deviam carregar consigo o título de utopia, agora podem servir como ilustração de um futuro próximo, como, século retrasado, fez a literatura de Júlio Verne, ao retratar homens utilizando submarinos e fazendo viagens até a Lua. Portanto, não é preciso esperar até 2020, ou ser rico o bastante para pagar uma passagem interplanetária; quatro reais ou menos (qualquer que seja o preço nas várias modalidades de locadoras) serão necessários a fim de embarcar com rumo à Marte neste
 
FIM DE SEMANA 10
DA TERRA À MARTE
 
O Vingador do Futuro
Marte Ataca!
Missão: Marte
John Carter: Entre Dois Mundos
 
Uma das histórias mais ricas e diversificadas, as quais protagonizou o ator Arnold Schwarzenegger, seguramente é O Vingador do Futuro, de 1990. Acaso se tenha notado a ausência desse longa no fim de semana reservado ao astro de ação, foi porque é falta maior, ao falar sobre temas fictícios relacionados à Marte, deixar de citar o “Vingador”. 
 
 
Correspondendo à atmosfera misteriosa que encobre o planeta vermelho, e levantando algumas ideias acerca dela, o longa reúne uma vastidão de conteúdos – trama espacial, futurística, de agentes secretos, seres mutantes – que o levam ao panteão do sci-fi, e são coerentemente equilibrados, inseridos, inclusive, na temática do “o que é realidade?”, que lembrarão o espectador de filmes mais contemporâneos como A Origem ou Matrix.
 
A criatividade – que à produção de efeitos especiais rendeu uma estatueta de Oscar – na criação da civilização humana avançada e das contradições sociais por ela gerada, vivifica a história do operário Douglas "Doug" Quaid (Arnold), que, no ano de 1084, recorre a um implante de memória para simular uma viagem a Marte, já que sua esposa não concordava com um passeio real, realizado por empresas privadas que controlam as colônias naquele mundo. Entretanto, algo sai errado durante a inserção, tornando o ordinário Doug um homem perseguido – começa aí uma aventura de Schwarzenegger como a conhecemos – confrontado com visões de seu desconhecido passado, obrigado a ir para as instalações marcianas em busca de respostas.
 
Será impossível não sair fascinado com a jornada do Quaid e suas marcantes cenas: destaque para a apresentação duma mutante-prostituta de seios peculiares e a “explosão” dos protagonistas devido à falta de oxigênio, além de algumas outras sequências singulares e chocantes.
 
Satirizando esse gênero, ao mesmo tempo que apresentando novas visões quanto à possibilidade da existência de raças alienígenas vizinhas a nós, com elenco de peso, a comédia Marte Ataca!, de 96, é obrigatória numa cinemateca de invasões à Terra – serão também as risadas dela provenientes. No roteiro, que parodia filmes “sérios” de temática extraterrestre, os marcianos sitiam nosso mundo, matando e destruindo tudo em seu caminho, pois acham divertido e querem transformar a superfície terrestre em um "parque de diversões". Para derrota-los, as conturbados personagens precisam encontrar alternativas às armas convencionais, e resta ao presidente dos Estados Unidos, interpretado por Jack Nicholson, a responsabilidade pela salvação dos humanos. 
 
 
Também soma-se à atuação Glenn Close, Pierce Brosnan, Natalie Portman e Michael J. Fox, sob a direção de Tim Burton, que abandona alguns atributos estéticos padrão, como a escuridão gótica de cenários, mas investe em outros, como o humor negro que predomina, sem muitos exageros, durante toda a projeção.
 
E à mesma medida que Mars Attacks! (no original) desenvolve a desconstrução do ícones e paradigmas dos blockbusters de aliens, a criação de uma nova mitologia extraterrena é onde trabalha Missão: Marte (2000), sem receios de fazer referências evidentes à obra de Kubrick ou à religiões pós-modernas, como a cientologia. 
 
Dirigido pelo mesmo Brian de Palma do Missão Impossível, Don Cheadle (Homem de Ferro 3) interpreta Luke Graham, comandante da primeira missão tripulada ao planeta moribundo; ele consegue um pouso perfeito, mas misteriosos fenômenos acabam causando um acidente que mata toda a tripulação. Nos últimos instantes antes do fim, o comandante consegue enviar uma enigmática mensagem a Terra; uma equipe de resgate é lançada então pela Nasa, com o objetivo de descobrir o que aconteceu e trazer de volta sobreviventes que possam existir. 
 
Para realizar o pouso, o time de astronautas passa por uma sessão terrível de problemas, onde evidencia-se a fragilidade das estruturas tecnológicas que possuímos, e os limites psicológicos de homens lançados aos espaço – quase Gravidade – atualmente em cartaz – mas sem a pesada carga metafísica dele. Aliás, o filme alivia objetivamente sua trama, sem aspirar atingir níveis kubrickianos de ficção, embora ao cineasta pague tributo, principalmente no final inevitavelmente semelhante à Odisseia no Espaço.
 
Todavia, para terminar uma semana é melhor dispensar exercícios intelectuais, pelo menos por ora. Por isso, John Carter: Entre Dois Mundos, lançado em 2012, é a última metragem sobre o planeta vermelho. Embora tenha sido uma ovelha negra para os Estúdios Disney (por não ter arrecado nem o mínimo de seus objetivos pecuniários), sua riqueza narrativa – a construção de raças, culturas e linguagens para os povos alienígenas – e visual é suficiente para estabelecer uma visão definitiva do mundo com nome de deus grego da guerra intitulado. 
 
Esperemos, então, que a realidade seja menos como a concepção clássica de Marte e mais como o otimismo científico, que mundo-morto o indica; voltamos, portanto, ao mesmo paradoxo sobre o qual disse Carl Sagan: “O que é mais assustador? A ideia de extraterrestres em mundos estranhos, ou a ideia de que, neste imenso universo, nós estamos sozinhos?”. 
 
Que seja a segunda, e que fique a resposta para daqui a sete anos. Enquanto isso, até o próximo fim de semana, e que, até lá, nenhuma criaturinha verde uns tratados galácticos decida quebrar.
 
Por Murillo JAF
Mujaf Oliver no Facebook

 

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