Mostra São Paulo 2011: Selton Mello, Jan Harlan e Stanley Kubrick

Publicada em 27/10/2011 às 08:25

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35 mostra são paulo

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DOS TRAPALHÕES A KUBRICK, SELTON MELLO FALA DOS FILMES DA SUA VIDA

"Nada como vir com o pai nos filmes da minha vida", riu Selton Mello quando o pai Dalton o ajudou a lembrar de um deles. O ator e diretor, que participa da 35ª Mostra com O Palhaço, conversou por uma hora com a plateia que lotou o Cine Livraria Cultura 2.

Mineiro de Passos, Selton mudou-se para São Paulo ainda na infância. Foi aqui que ele viu os filmes que o encantaram quando menino – entre eles quase todos dos Trapalhões. "A gente podia entrar no cinema e ficar; não sei se podíamos fazer isso mesmo ou se a gente era arruaceiro mesmo", disse. "Via três sessões e saía com as falas decoradas". O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão (1977) é um dos preferidos, mas também entram na lista E.T. - O Extraterrestre (1982) e Superman - O Filme (1978) – que lembrou com a ajuda do pai. Na TV, ele viu todos os filmes de Roberto Carlos e de Jerry Lewis, que anos depois o surpreendeu com sua atuação em Arizona Dream (1993), de Kusturica.

No Rio de Janeiro, a carreira de dublador profissional, dos 12 aos 20 anos, fez dele um grande receptor de imagens. "Assistia muita coisa, mas não podia me expressar. Hoje em dia, me vejo fazendo coisas influenciado por aquela época”. Viu e dublou, por exemplo, Depois de Horas (1985), de Scorsese, que adora.

Plateia

Em alguns momentos, o público fez às vezes de pai e lembrou Selton de diretores como Woody Allen – "adoro Zelig (1983), Manhattan (1979), Noivo neurótico, noiva nervosa (1977). Adoraria fazer um filme do Woody Allen como ator" – e Chaplin – "gênio". Lembrou Bergman, que assistiu com a equipe de Lavoura Arcaica durante os cinco meses que passaram em uma fazenda em Minas. "Mas não sou fã de filme cabeçudo", brincou.

Primo mais velho

Entre os filmes que mais o encantam estão Muito Além do Jardim, com Peter Sellers; O Bandido da Luz Vermelha, "o melhor filme brasileiro de todos os tempos, que consegue ser tudo ao mesmo tempo: engraçado, dramático, comovente, inteligente, popular"; Laranja Mecânica, O Poderoso Chefão e dois filmes menos conhecidos de Coppola: Vidas Sem Rumo (1983) e O Selvagem da Motocicleta (1983), este com Mickey Rourke. "O Mickey é como se fosse um primo mais velho meu. Ele tinha uma pegada de fazer as coisas de forma muito simples", afirmou. "Recentemente, vi O Lutador e fiquei muito comovido, foi como se visse um primo meu voltando".

A lista de atores que admira inclui Marlon Brando e Sean Penn. "É difícil envelhecer na profissão, é difícil ser Paulo José e continuar um ator interessado e interessante", comentou. "Você vai ficando mais velho, vai descobrindo algumas coisas. Cada vez mais estou querendo me preparar menos para os papéis. Por que se preparar, se a gente não está preparado para a vida?".

Não perca os próximos encontros do ciclo OS FILMES DA MINHA VIDA – sempre às 11h da manhã no Cine Livraria Cultura 2, Conjunto Nacional, com entrada gratuita.

26/10 – quarta-feira: Beto Brant 27/10 – quinta-feira: José Geraldo Couto 28/10 – sexta-feira: Eduardo Coutinho 30/10 – domingo: Jorge Furtado 31/10 – segunda-feira: Isabela Boscov 01/11 – terça-feira: Laís Bodanzky 02/11 – quarta-feira: Marçal Aquino

Cine Livraria Cultura 2 – Conjunto Nacional
(Rua Augusta, 1811 – esquina com a Paulista)
Entrada gratuita

Fonte: Jornal da Mostra

 

 

JAN HARLAN FALA SOBRE STANLEY KUBRICK

Jan Harlan, produtor e cunhado de Stanley Kubrick (diretor de, entre outros clássicos, 2001: Uma Odisseia no Espaço, Laranja Mecânica e O Iluminado), conversou com o público que lotou o auditório da FAAP na terça-feira, 25 de outubro, até as perguntas se esgotarem. Por duas horas, levantou-se da cadeira e andou pelo palco para conseguir ver quem lhe perguntava, e falou muito sobre a obra do diretor, "diferente na forma, mas muito semelhante na essência".

"Kubrick tinha um olhar muito crítico sobre nós. Era um personagem realmente político, muito pessimista com o futuro da humanidade. E esse lado aparece em todos seus filmes". Característica que, diz Jan, unifica sua obra variada em gêneros. "Ele como artista tem uma visão ou estilo assim como um filme de Woody Allen ou uma sinfonia de Mozart".

Segundo Harlan, Kubrick sentia a necessidade de se apaixonar pelas histórias que contava. Assim aconteceu, por exemplo, com Laranja Mecânica que esta 35ª Mostra reexibe em cópia restaurada digitalmente. "Não façam nada que não envolva paixão e desejo. Todos vocês sabem o que é uma grande história de amor, não? Espero que sim", brincou.

Um movie freak que gostava de assistir especialmente a filmes de diretores novos, Kubrick tinha o costume de ligar para cineastas que o impressionavam, como aconteceu com o alemão Edgar Reitz, em Heimat (1984). "Ele dizia: "Oi, sou o Stanley Kubrick", e as pessoas desligavam na cara dele".

Laranja Mecânica
"Se Kubrick não tivesse se interessado pela dualidade do personagem Alex, ele não teria feito esse filme. Ele estava sempre se questionando. Ao trabalhar com os atores nos ensaios, ele perguntava e queria ouvir suas opiniões. Stanley sabia o quão difícil era fazer um bom filme. Ele tinha outra ideia para a cena do estupro, mas sabia que não era interessante o suficiente, então resolveu parar e mudá-la a tempo".

O Iluminado "Foi a Warner que contatou Stanley para que ele fizesse O Iluminado. Ele pensou que seria uma forma muito interessante de expressar algo mais, e desde o início disse que só faria o filme se tivesse liberdade para fazer o que bem entendesse. Ele não queria explicar nada, histórias de assombração não fazem sentido, de qualquer forma".

2001: Uma Odisseia no Espaço
"Via em Kubrick um desejo de desenvolver uma história que falasse muito mais, ele amava o desconhecido. A música é um elemento importantíssimo na arte de fazer filmes, especialmente neste filme. A escolha da valsa vienense (Danúbio Azul, de Johann Strauss) em 2001 foi rejeitada por muitos críticos da época. Mas os jovens viram e fizeram desse filme um enorme sucesso".

De Olhos bem Fechados
"Este é um projeto de 30 anos, e Kubrick considera sua maior contribuição para o cinema. Ele não queria fazer nada erótico. Criou na verdade o oposto: um mundo opulento, rico, elegante na superfície, mas vulgar na essência". "Ele gostava de trabalhar com uma equipe enxuta, e exigia que todos se comprometessem com o filme. Kubrick costumava dizer: "Se você tem mais de quarenta pratos para lavar depois do almoço, você deve estar fazendo algo errado"“. "Em De Olhos bem Fechados, por exemplo, ele tinha pensado originalmente em usar em uma cena, máscaras que cobrissem apenas os olhos, mas depois resolveu que precisava de algo que velasse o rosto inteiro, já que os personagens não queriam ser reconhecidos. E lá fui eu no dia seguinte para Veneza; comprei todas as máscaras que eu encontrei".

Inteligência Artificial "Quando Kubrick finalmente começou a produzir o filme, ofereceu o roteiro para o (Steven) Spielberg. Eu mesmo fiquei chocado com esta escolha, mas ele me disse: "Ele é o melhor diretor para este filme". Spielberg era um grande fã de Kubrick, acho que ele se manteve fiel ao roteiro original. Especialmente na cena em que os robôs encontram o pequeno David congelado no futuro. O conselho de Kubrick era: "nunca tente explicar nada que você não compreenda completamente, deixe como imagem", e Spielberg fez isso".

Fonte: Jornal da Mostra

 

Por Laísa Trojaike - @LaisaTrojaike

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