Mostra São Paulo 2011: Frances Kazan fala sobre Rio Violento

Publicada em 26/10/2011 às 12:46

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ESCRITORA FRANCES KAZAN FALA SOBRE O DIRETOR ELIA KAZAN

Após a exibição de Rio Violento (Wild River), filme restaurado pela Academy Film Archive e pela Twentieth Century Fox, com fundos da The Film Foundation, a escritora Frances Kazan, viúva do diretor do filme, Elia Kazan, conversou com o público presente no auditório da FAAP.

A importância dos atores e do drama como figura central nos filmes de Elia foi um dos pontos abordados por Frances. Segundo ela, os escritores favoritos de seu marido eram Homero, Shakespeare e Tolstói. "Ele não concebia como alguém poderia dirigir um filme sem conhecer as tragédias gregas, pois é lá que está a essência do drama e da ambivalência humana. Essa ambivalência era de suma importância para Elia".

A escritora também falou sobre os dois últimos filmes do marido, Os Visitantes (1972) e O Último Magnata (1976), dos quais Elia não gostava. "Ele aceitou dirigir O Último Magnata pois sua mãe estava muito doente, para poder cuidar dela com o dinheiro ganho pela direção do filme". Elia não gostou do resultado final "por se sentir bastante limitado, tanto pela interferência massiva dos produtores como pelos problemas com o roteirista Harold Pinter". Para o diretor, porém, o ponto positivo era a presença e desempenho de Robert De Niro, em um dos seus primeiros grandes papéis.

Quando abordada sobre o mais polêmico e delicado tema de carreira de Elia Kazan, a sua suposta relação com o macarthismo e o comitê de atividades antiamericanas, Frances disse apenas que "Elia escreveu muito sobre isso na sua autobiografia, mas esse não era um assunto que nós conversávamos".

Sobre Rio Violento, "o filme favorito de Elia, juntamente com Terra de um Sonho Distante (America America, 1963)", Frances disse que "o filme tocava num ponto até então nunca debatido no cinema e que parecia importante para ele, que era o meio ambiente; a dissolução de uma comunidade, uma grande mudança em nome do progresso. Esse também era o tema de Um Rosto na Multidão (1957), só que através do impacto da televisão na política". Também lhe interessava, segundo ela, a questão racial no sul dos Estados Unidos, o início da luta e conflito pelos direitos civis.

Ainda sobre o filme, Frances falou que o personagem favorito de Elia em Rio Violento era a velha matriarca interpretada por Jo Van Fleet, que resiste até o fim em deixar sua casa na região que será inundada para o funcionamento de uma represa. "Elia tinha um apreço muito grande pelas mulheres mais velhas, assim como pelas mulheres mais velhas de sua família, por essas mulheres que marcaram a sua vida quando ele saiu juntamente com elas aos cinco anos idade da Turquia; Elia tinha uma parede repleta de fotos dessas mulheres em casa".

Frances foi casada com Elia Kazan de 1982 até a sua morte em 2003, período em que o diretor estava aposentado e que, segundo ela, se dedicava a escrever e rever seus próprios filmes, "Um gesto de reflexão, de refletir já em seus últimos anos sobre o valor de sua vida, sobre o valor das coisas que ele havia feito". Mesmo assim, ainda que a admiração pelos filmes de John Ford e da vanguarda soviética falasse mais alto, Elia não se furtava em assistir novos filmes. Elia teve reações opostas com dois filmes do mesmo diretor, o britânico Anthony Minghella. Irritou-se com O Paciente Inglês (1996), "por ser uma bobagem"; e adorou Um Romance de Outro Mundo (Truly Madly Deeply, 1990), "pequeno filme que ele realmente admirava".

Fonte: Jornal da Mostra

 

Por Laísa Trojaike - @LaisaTrojaike

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