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Crítica: Wolverine – Imortal



– Queria te perguntar uma coisa, amor...
– Pode perguntar... – Respondeu, ela, com os olhinhos brilhando.
– Você... quer namorar comigo?
– É claro que sim! – Seus olhinhos saltitavam de felicidade.
– Mas irei te trair na primeira oportunidade que eu tiver.
...
 
Pode ser uma hipérbole, mas é um diálogo (metafórico, obviamente) comparável ao início dos cento e vinte e seis minutos de Wolverine – Imortal.
 
Por quê?
 
Porque se iniciar uma narrativa com o chavão do sonho (a não ser que seja, esse, o tema) já é deselegante por trair a confiança de quem ainda, na verdade, nem está confiando (o espectador), principiar a projeção com um sonho-dentro-do-sonho não só trai essa confiança, mas trai e mente que traiu traindo novamente, o que, além de ser deselegante, revela autodesconfiança (a não ser que o tema seja... inception).
 
Sonhos são fáceis de surpreender e causar impacto, mas e a verdade?
 
Apesar da introdução, a verdade é boa.
 
E o amor do Logan (Hugh Jackman) pela Jean Grey (Famke Janssen) é dos mais bonitos entre os super-heróis.
 
Corajoso ao revelar um Logan vulnerável (pela primeira vez, sem a mutação regeneradora) – auxiliado pela interpretação séria do Jackman, que transmite a silenciosa e expressiva inquietude do personagem ao se sentir mortal –, o roteiro (pecador sim, imperdoável não) parece não satisfeito em ser expositivo e didático, desenvolvendo a ação de forma satisfatória, mas surpreendendo negativamente em situações-chaves. E nem é necessário incluir a regeneração total das mãos do então humano (ou quase isso) sempre que expõem as garras de adamantium nesse entremeio. Da mesma forma, irei acreditar que a ausência completa de sangue de certo personagem (que parece ter saído de uma noveleta) após ter uma espada atravessada em seu peito fora, somente, um pequeno (!) deslize do design de produção.
 
Aliás, adamantium, como liga metálica fictícia que é, deve ter status de rabo de lagartixa.
 
Do mesmo modo torto, os alívios cômicos são mal explorados e expositivos e o romance... dispensável (apesar de a Tao Okamoto – a Mariko – ser... simpática). Como não censurar uma sequência em que o design de produção (novamente) expõe uma cabra (e nem pude deixar de pensar, instantaneamente, no hilário Bode Gaiato) para, logo em seguida, a personagem precisar explicar para nós (porque Logan não seria estúpido o suficiente para não ligar os pontos – Você acha que não é assim que a produção pensa?!) que estavam com um veterinário.
 
– Mãe, eles precisavam da cabra dentro da gaiola? – Uma criança que estava sentada ao meu lado perguntou à sua mãe.
 
Eu não escutei a resposta que a senhora deu. O menino tinha entre dez e doze anos de idade.
 
A cabra (que, ainda assim, é um exagero) ou o diálogo. Make your choice!
 
E o que dizer da previsível e pastelona cena em que Mariko vai ajudar o X-Man a enlaçar o seu Hitatare (o roupão samurai)?
 
Silêncio.
 
Há, mesmo assim, duas sequências que valem o valor do ingresso. A primeira se trata de uma batalha que acontece sobre (na maior parte do tempo) um trem-bala. A outra (e essa vale o valor de uma sessão 3D – não pelo artifício, mas pela beleza da composição) versa a resistência e força (física e espiritual) do herói ao encarar uma aliança ninja e suas flechas presas a cordas.
 
Do outro lado, a Hera Venenosa de Uma Thurman (Batman & Robin) parece ter voltado à ativa na pele da russa Svetlana Khodchenkova.
 
Deve ter conseguido mudar seu nome em algum cartório.
 
Não! Espera! Deve ter sido um sonho.
 
Um pesadelo.
...
 
– Queria te perguntar uma coisa, Sihan...
– Pode perguntar... – Respondeu, ele, com os olhinhos brilhando.
– Em uma palavra, foi bom pra você?
...
 
Não há uma palavra.
São muitos “nãos” e poucos, mas respeitáveis, “sims”.
 
 
ps.: Há uma sequência (que é mais instigante que todo o filme) em meio aos créditos finais.
 
por Sihan Felix - @sihanfelix
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