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E aí, Comeu?



O público ficou traumatizado com Cilada.com. E mais: passou a temer comédias protagonizadas por Bruno Mazzeo, já que seu nome virou sinônimo de piada repetida ou sem graça. Mas esse não é um filme do Mazzeo. É a adaptação de uma peça de Marcelo Rubens Paiva, detalhe pouco divulgado para não espantar o público alérgico à cultura.

Rubens Paiva, que tem, no Estadão, um blog intitulado “Pequenas neuroses contemporâneas”, também roteiriza o longa que visa tratar um pouco desse tema. E aí, Comeu? poderia ter sido igualmente intitulado como “Pequenas neuroses masculinas contemporâneas”.

Da mesa de bar para o palco do teatro e de lá para o cinema, E aí, Comeu? expõe a vulgaridade do mundo secreto masculino. Não é um filme específico para homens e nem para mulheres. É uma obra para que eles possam se identificar e para que elas possam ter acesso àquele momento em que sempre estão ausentes.

Enquanto os teasers e trailers mostraram um filme baixo, de piadas apelativas, a realidade se mostrou um pouco mais doce. Há a vulgaridade, mas isso nada mais é do que a realidade posta na tela. A realidade da maioria das mesas de bar, para não generalizar.

Se a baixaria está justificada e respaldada pela sua proveniência, então, qual é o problema dessa produção? São, basicamente, dois: atuações e adaptação.

Bruno Mazzeo sempre se adequou muito bem ao formato satírico do programa Cilada e sua aparição em esquetes ácidos sempre será bem vinda. Já os longas-metragens definitivamente não são o seu habitat natural e sua presença nesse filme expõe o espectador a uma constante tentativa de abandono da artificialidade. Mazzeo é, simplesmente, incapaz de parecer natural (mesmo tendo dito que se identificava com a situação do personagem Fernando).

Emílio Orciollo Netto, a princípio, não convence muito dentro de uma camisa polo bege enquanto monta sua fama de solteiro convicto, mas é o desenrolar da trama que torna tudo coerente.

A salvação da película é Marcos Palmeira que, pasme, não faz o papel de galã. Honório, seu personagem, é um homem casado e que tem três filhas. Um papel com a plástica seriedade de uma novela e, por isso, devidamente cômico em seus detalhes. Palmeira equilibra com perfeição todos os quesitos necessários para tornar o personagem real, ainda que caricato.

Quanto à adaptação, não irei comentar sobre as mudanças que ocorreram na transcrição da linguagem teatral para a linguagem cinematográfica. A transposição sofre ao não se deixar levar completamente pela sétima arte. O constante resquício de teatralidade, que certamente se reflete em algumas atuações, prejudica o filme que acaba por não convencer o público. Com isso, a piada fica menos engraçada. Algumas formas de humor são dependentes da espontaneidade.

O diretor de Muita Calma Nessa Hora, Felipe Joffily, fez um trabalho muito melhor do que na sua outra tentativa de direção, mas, talvez por inexperiência, mostra-se inapto para controlar a situação geral e para dar firmeza ao filme. Do início ao fim, E aí, Comeu? é permeado por uma falta de punho para dizer “Isso é um filme, não uma novela global, nem um programa humorístico de sábado a noite!”.

É válido ressaltar que tanto a presença do excelente Seu Jorge e da talentosa Dira Paes fizeram o filme valer mais o preço do ingresso.

Recheado de machismo descarado, E Aí, Comeu? é a revelação do fantástico mundo masculino, um buraco de fechadura por onde qualquer um pode espiar. Além disso, o longa admite que, por trás de toda essa baixaria masculina há, na verdade, um homem que busca a redenção em uma mulher.

Saiba mais sobre o filme E aí, Comeu?.

Por Laísa Trojaike
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