O Ritual

É quando um pequeno mas forte caracol encontra uma concha enorme e chamativa. Um filme razoável vestindo uma imagem de blockbuster imperdível. Em um apelo de mercado incompatível com sua qualidade real, O Ritual, apesar das raras críticas positivas no país de origem, merece alguma chance e um julgamento menos maldoso.

Mikael Håfström (1408), apesar de fiel ao cinemão comercial, consegue ser menos óbvio em suas escolhas, empregando sutileza e detalhes na condução da narrativa que são ausentes na maioria das produções do gênero. Mas é fato que os clichês estão presentes. A trilha de forte súbito que provoca sustos forçados e o personagem ousado na busca incansável pela verdade (vivido aqui pela brasileira Alice Braga) estão presentes e, mesmo assim, a direção vistosa e eficiente garante o clima de suspense até o fim dos 114 minutos.

Anthony Hopkins, no corpo de um padre de fé instável, demonstra (como se ainda precisasse provar algo) sua elegância e experiência em filmes de suspense/terror e, amparado por bons diálogos, cede uma sossegada dose de sarcasmo e ironia tipicamente britânica.

O roteiro de Michael Petroni, igualmente, merece uma apreciação menos sisuda. Baseando-se no livro The Making of a Modern Exorcist, de Matt Baglio, inspirado em uma história real, Petroni consegue levantar questões sobre a fé e divaga, sutilmente, sobre o mal que é a verdade escondida nas lembranças de um ser humano.

Sem dúvida, o apelo de massa da produção e a lealdade a um formato comum subtraem a essência de um excelente e memorável longa-metragem, diminuindo o filme ao lugar dos entretenimentos razoáveis acima da média. Talvez, para disfarçar a incapacidade de construir algo memorável, os realizadores tenham tido a brilhante (?) ideia de criar o trivial bem feito e maquilar o resultado para o vender acima do que vale. Como se o caracol do primeiro parágrafo fosse um suculento mas pequeno escargot enganando o consumidor.

Bons e ruins filmes para nós!

Saiba mais sobre o filme O Ritual.

Por Sihan Felix