As polêmicas de J. Finn, autor de A Mulher na Janela

Publicada em 26/05/2021 às 19:57

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As polêmicas de J. Finn, autor de A Mulher na Janela
Foto: Divulgação

Daniel Mallory, ou A. J. Finn seu pseudônimo, é um escritor americano que ganhou notoriedade após a publicação de seu primeiro romance A Mulher na Janela, que acabou ficando em primeiro lugar na lista do The New York Times Best Seller. A adaptação do livro estreou em maio pelo streaming Netflix e conta no elenco com nomes como Amy Adams, Gary Oldman, Julianne Moore, entre outros.

O autor nasceu em Nova York em 2 de janeiro de 1979 e se formou em Inglês e Atuação pela Universidade de Duke. Sabe-se que Daniel morou vários anos em Londres, onde trabalhou na Sphere Books, um selo da editora Little, Brown and Company. Logo depois voltou para trabalhar em Nova York como editor executivo e vice-presidente da editora William Morrow Company.

As polêmicas e mentiras sempre envolveram o autor, porém foi apenas em 2018 que suas falsas alegações começaram a se tornar públicas, e logo toda sua imagem começou a ser questionada, e, em 2019, Ian Parker trouxe todas as farsas à luz em uma matéria para o The New Yorker.

No ano de 2018, o Sidney Morning Herald publicou uma matéria do autor de “A Mulher na Janela”, A. J. Finn, onde foi dito que o homem tinha um doutorado pela Universidade de Oxford com uma tese sobre Patricia Highsmith, uma autora conhecida principalmente pelo livro “O Talentoso Ripley”. Logo após a publicação dessa matéria os professores de Daniel Mallory em Oxford disseram que sim, Daniel havia iniciado os estudos na universidade, porém que nunca foram concluídos. Segundo um professor, Daniel havia dito que não poderia continuar os estudos por conta de um tumor no cérebro.

De fato, foi um câncer que lhe conquistou a vaga no doutorado. Em sua carta de aplicação para Oxford, Daniel pedia uma chance na universidade pois estava passando por diversos problemas familiares e, por esse motivo, suas notas na graduação não eram tão boas, pois precisava viajar da Inglaterra para os Estados Unidos constantemente, em função de sua mãe que estava com câncer e seu irmão que tinha deficiências mentais e fibrose cística. Além de conquistar a vaga no doutorado, Daniel Mallory ainda deu algumas aulas na universidade.

Algum tempo depois, Daniel, ou A. J. Finn, contou para todos na universidade de Oxford que seu pai, mãe e irmão haviam falecido. E, como é mostrado na matéria do The New Yorker, essa foi apenas uma das primeiras mentiras de A. J. Finn em sua vida de farsas. Seus pais estão vivos e são casados há mais de quarenta anos e sua mãe teve sim câncer, mas quando Daniel Mallory ainda era criança. Seu irmão também está vivo.

Quando questionado sobre essa mentira, Daniel disse ter sido ideia de sua mãe para conquistar a simpatia da universidade e conseguir a vaga no doutorado.

Quando essas histórias foram a público, A. J. Finn, ou Daniel Mallory, soltou uma nota de esclarecimento dizendo que possuía bipolaridade do tipo II, e que por isso em alguns momentos de sua vida inventou mentiras e que já não se lembrava da maioria dessas invenções. Especialistas em bipolaridade já disseram que essa doença não é a responsável por esses comportamentos, e que, se Daniel Mallory tivesse de fato essa condição, não conseguiria escrever um romance se sua bipolaridade não estivesse controlada com o uso de medicamentos, e ele alega que descobriu essa condição após a escrita de seu livro.

As polêmicas de J. Finn, autor de A Mulher na Janela

Sobre seu livro, quando a obra “A Mulher na Janela” ainda estava em leilão para a venda de seus direitos, várias editoras estavam interessadas na compra pois era um livro com grandes chances de se tornar um best seller. Quando foi dito que o pseudônimo A. J. Finn pertencia a Daniel Mallory, grande parte das editoras saíram do leilão e os direitos do livro acabaram ficando para William Morrow Company, a editora para qual Daniel trabalhava.

Sobre essa desistência das editoras pode-se assumir que grande parte venha da fama de Daniel Mallory no mercado editorial. Assim como na vida acadêmica, sua vida profissional foi cercada de mentiras e enganações. Vários ex-colegas do autor já vieram a público dizer que Daniel era difícil de se trabalhar junto, contava diversas mentiras, além de maltratar e roubar ideias de colegas.

Sua própria posição na editora Little, Brown and Company foi conquistada em cima de mentiras e falsas atribuições. Para a editora de Londres, Daniel Mallory havia dito que tinha trabalhado na Random House em Nova York, o que era verdade, no entanto disse ter trabalhado lá como editor e não como assistente de editor, que era realmente seu cargo. Sendo assim, conquistou uma vaga de editor na Little, Brown and Company sem ter a experiência correta para a função.

Além disso, mesmo após seu novo emprego em Londres, continuou usando o cartão corporativo da Random House e quando questionado pela empresa alegou que era por culpa de seu tumor no cérebro, que o fazia esquecer as coisas.

Ainda na Little, Brown and Company, Daniel Mallory conseguiu um aumento ao mentir para sua editora que outra empresa estava interessada nele, sendo assim sua editora logo cobriu a oferta de trabalho para mantê-lo na Little, Brown and Company. Algum tempo depois foi descoberto que nunca houve outra proposta e quando sua empresa o questionou, ele se defendeu dizendo que havia negado favores sexuais para a pessoa que lhe ofereceu o emprego, e por isso agora o estavam difamando.

Daniel Mallory ainda disse em algumas entrevistas que, enquanto trabalhava na Little, Brown and Company, foi ele quem deu a aprovação para a publicação do “O Chamado do Cuco”, livro da escritora J. K. Rowling, sob o pseudônimo de Robert Galbraith. A editora já o desmentiu dizendo que Daniel nunca chegou perto do manuscrito.

Quando Daniel Mallory voltou para os Estados Unidos e foi trabalhar para a William Morrow Company falava usando um sotaque britânico, mesmo sendo estadunidense e tendo morado na Inglaterra apenas por alguns anos.

Na William Morrow Company as mentiras e farsas continuaram.

Em 2013, Daniel ficou sem ir trabalhar por alguns dias e então seus colegas de trabalho, tanto da William Morrow Company quanto da Little, Brown and Company em Londres, receberam um e-mail de alguém chamado Jake que se dizia ser o irmão de Daniel. No e-mail, Jake dizia que seu irmão Daniel iria passar por uma cirurgia para a retirada do tumor no cérebro. Contudo, Daniel Mallory já havia contado para seus colegas que seu tumor era inoperável e os médicos o tinham dado uma estimativa de vida de até os quarenta anos. Além disso, começou a usar boné no trabalho dizendo estar careca por conta da quimioterapia. Outro fator que fez seus colegas duvidarem da veracidade do e-mail era a forma como Jake escrevia certas palavras do mesmo modo que Daniel.

Quando Daniel Mallory voltou ao trabalho seus colegas se surpreenderam em como o homem parecia estar fisicamente bem, sem nenhuma sequela da cirurgia que, segundo Jake, teve complicações. Um dia um colega de Daniel perguntou sobre Jake e Mallory disse que seu irmão havia se suicidado. Além dessas mentiras, colegas já disseram que Daniel Mallory constantemente dizia ser amigo de Rick Martin, ter participado de desfiles e ainda ter saído na revista da Vogue da Rússia.

Outra mentira acadêmica de Daniel Mallory foi começar a dizer que possuía dois doutorados, um em Oxford e outro em uma universidade nos Estados Unidos. A universidade esclareceu a mentira ao dizer que Mallory sequer estudou na instituição. Já outras mentiras profissionais envolviam dizer que participou da edição do livro da comediante Tina Fey, ajudando até mesmo a melhorar a obra, o que a assessoria da atriz já negou.

Daniel Mallory ainda dizia ter trabalhado para a New Line Cinema, o que era verdade, porém o autor disse ter feito parte da criação e roteiro do filme “Premonição” e a empresa já negou. Daniel Mallory trabalhou apenas como estagiário na New Line Cinema.

Nos primeiros eventos de “A Mulher na Janela”, A. J. Finn, ou Daniel Mallory, também dizia sofrer de agorafobia, a condição que a protagonista em seu livro sofre. Porém não há provas disso, além de o autor nunca mais ter comentado sobre isso em outros eventos. Ainda sobre sua saúde mental, A. J. Finn disse sofrer de depressão, mas que após algumas sessões de choque havia melhorado.

Nessas condições, com tantas mentiras, não era de se surpreender algumas pessoas o acusarem de plágio. As principais suspeitas de plágio vêm do filme “Copycat” de 1995, que possui uma trama parecida, envolvendo uma mulher que sofre de agorafobia, e o livro “Saving April” da escritora Sarah A. Denzil, que ainda moveu um processo contra A. J. Finn.

Em meio a tantas farsas e mentiras fica fácil entender porque grandes editoras desistiram de “A Mulher na Janela” mesmo sabendo seu poder de venda e chances de se tornar um best seller.

Assim como seu livro, a vida de Daniel Mallory, ou A. J. Finn, é uma grande trama cheia de reviravoltas.

Leia mais sobre A Mulher na Janela no Cinema10.

Por Karoline Póss


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