Cinema é arte ou entretenimento?

Publicada em 28/06/2016 às 19:26

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Uma produção fílmica pode ser apenas arte, apenas entretenimento ou ambos simultaneamente? Primeiro, precisamos pontuar o que são cada um dos itens mencionados. Começamos pelo objetivo pautado: o cinema. Este consiste numa produção baseada em sucessões imagéticas em movimento, cuja sequência narra uma história, podendo esta, ser original ou adaptada, e permitindo a possibilidade criativa como elemento compositor.
 
Agora façamos comentários acerca dos outros dois pontos problematizados: a arte e o entretenimento, respectivamente. A arte é algo difícil de definir. Para que se tenha ideia de tal dificuldade, pense e considere que a filosofia, há séculos, vem tentando estabelecer um significado para ela e, ainda assim, até os dias de hoje, é uma tarefa difícil dizer o que é. 
 
Vamos entender que a arte pode ser uma expressão de seu produtor, cuja inspiração é interna ou externa. Isto é, pode-se trabalhar com emoções particulares ou retratar aquilo que é e/ou está no exterior. Nesse âmbito, ela pode estar preocupada com sua aparência e/ou com sua mensagem. 
 
No entanto, a arte precisa ser criada sem pretensões, ou seja, de maneira pura e espontânea. E pode envolver habilidade envolvida ou não, isso depende da interpretação que cada um possui sobre a arte. Para Pablo Picasso, por exemplo, o princípio era simplesmente criar traços, e isso poderia ser feito por qualquer pessoa. Já para o escritor Oscar Wilde, a arte precisava ter beleza e envolver técnica. Ou seja, para o primeiro, qualquer um poderia ser artista, para o segundo, era preciso ter talento para o ser.
 
Mas vejamos um exemplo que independe de tais interpretações: se um artista elabora, por exemplo, uma escultura propositalmente pensando em vendê-la, ele estará criando um produto, pois seu processo criativo não estará envolvendo naturalidade. Mas há uma observação fundamental que precisa ser validada neste momento: arte e produto são palavras divergentes e seus significados também o são. 
 
Podemos ressaltar aqui o advento da Indústria Cultural, para a qual a sociedade capitalista passou a massificar a arte, e criar produtos repetitivos cuja finalidade é exclusivamente a venda de tais produtos, visando entreter a massa. Portanto, tal processo não é arte, é um produto arquitetado em laboratório. 
 
A indústria hollywoodiana, em específico, trabalha (ao menos na maior parte de suas produções) com este princípio. Obviamente, seus resultados podem possuir mensagens ou terem destaques técnicos. Porém, seus filmes, antes de qualquer coisa, são objetos mercadológicos. 
 
Tal fato pode ser visto claramente, especialmente para aqueles que estudam ou tem conhecimentos sobre criação de roteiro, pois nota-se (sem grandes dificuldades) que existe um arquétipo similar no esqueleto desses longas. Por isso, estes são sempre (ou na maior parte das vezes, só para não generalizar) muito similares e previsíveis. 
 
Todos esses elementos tornam a maior parte das produções que estão em cartaz enlatados e embasados em estereótipos. Não existe uma liberdade de criação completa quando se constrói um filme para atender exigências, pois somente o fato de haver uma exigência em jogo, já exclui a espontaneidade artística. 
 
Uma arte pode ser vendida contanto que não possua finalidade pura e exclusivamente mercadológica, pois, afinal, se tal fator estiver presente, não se trata de arte. E na Indústria Cultural, quando uma produção necessita de público, marketing, capital, investimento e retorno, já se distanciam do conceito de arte pura, pois passa a ter certos preceitos a priori que são determinantes para o resultado final. 
 
"A indústria do cinema realmente mudou ao longo da última década e se tornou uma operação completamente guiada pelo marketing”, disse Marc Shmunger, vice-presidente do Universal Studios e um dos mais respeitados executivos de marketing na indústria.
 
Contudo, podemos nos perguntar se o cinema precisa ter cunho artístico ou se ele deve ter por objetivo, simplesmente nos felicitar, gerar prazer e despertar emoções e ideias em nossa mente. Se esta é, meramente a finalidade de um filme, uma produção das mais clichês que existam, pode comprimir com tal meta. Até porque, o sentimento que uma obra cinematográfica causa num indivíduo é muito particular. Portanto, cabe a nós, críticos e amantes do universo do cinema, especular e filosofar a seu respeito.
 
Por Ju Vannucchi
(Artigo enviado de forma colaborativa por um leitor do Cinema10)

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