Crítica | Piedade: resistência no interior do Brasil

Publicada em 20/07/2020 às 19:00

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Na cidade fictícia de Piedade, os moradores que viviam do turismo e da pesca são abalados com a chegada de uma petroleira que tenta negociar as terras locais. Enquanto o executivo da Petrogreen resolve a situação com as famílias, grandes segredos do passado vem à tona.

Dirigido por Cláudio Assis, cineasta brasileiro já conhecido por Amarelo Manga (2003) e A Febre do Rato (2012), o filme levanta uma discussão atual sobre questões ambientais, políticas e familiares. Piedade (2019) é uma história sobre a exploração da natureza e o reencontro de uma mãe com seu filho perdido. Os dois caminhos paralelos se completam durante essa intensa trama que retrata o interior de Pernambuco. 

Sem dúvida, o ponto forte de Piedade está em seu roteiro formado por procuras e desencontros. Embora a situação da nova pretrolífera tenha transformado a vida da pequena cidade, o que move a narrativa são as relações humanas e suas complexidades. Muito bom em criar seus próprios símbolos, o filme se apropria de imagens já existentes para construir uma atmosfera única e turbulenta. Uma infestação de tubarões no mar, um motel barato e o ativismo ambiental marcam o longa com um discurso maduro e politicamente atualizado.

A direção de Assis carrega uma grande sensibilidade para falar de afeto no meio do caos e do prazer carnal. Baseado em sua própria jornada de vida sobre um irmão perdido, ele transformou a obra em um retrato cinematográfico muito mais profundo e pessoal do que seus filmes anteriores. Não só o drama familiar tem grande força, mas a resistência dos moradores contra a exploração do capitalismo honra um povo de luta que defende as terras do nosso país. 

Apesar disso, algumas cenas pecam na qualidade. Em diversos momentos, a fotografia parece pouco planejada e a edição possui cortes rígidos e desencaixados que não se justificam. Mas o fato é compreensível devido ao baixo orçamento da indústria nacional e os problemas enfrentados pela produção.

O elenco é formado por grandes nomes que já possuem grande prestígio: Fernanda Montenegro, Cauã Reymond, Matheus Nachtergaele e Irandhir Santos dão um show de atuação. Cauã e Matheus se destacam com cenas de sexo muito bem ensaiadas e filmadas, além de um romance complicado.

Definido pelo próprio diretor como "um filme atemporal", Piedade é uma história brasileira alinhada com as discussões políticas e ambientais de hoje e possui uma trama interessante e vigorosa. Seus problemas visuais são inegáveis, mas não tiram o valor da história. 

O longa está previsto para chegar aos cinemas em breve. Enquanto isso, leia mais sobre Piedade no Cinema10. 

Por Samanta Renck de Carvalho


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