Mostra São Paulo 2011: Richard Schickel e Laís Bodanzky

Publicada em 02/11/2011 às 13:38

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35 mostra são paulo

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RICHARD SCHICKEL: "FILMES VÊM E NOS CONQUISTAM, O IMPACTO É TODO SEU"

O jornalista, escritor e diretor americano Richard Schickel, crítico de cinema da revista Time e autor de dezenas de livros e documentários sobre grandes nomes do cinema, como Douglas Fairbanks, Gary Cooper, Cary Grant, Marlon Brando e James Cagney, esteve na FAAP no dia 31 de outubro para apresentar e debater o documentário de um amigo, Martin Scorsese, sobre um de seus biografados, Elia Kazan. "Conheci Elia porque queria fazer um filme sobre ele; aliás, muitas das imagens desse documentário (Carta Para Elia, de Scorsese e Kent Jones, 2010) foram filmadas comigo atrás das câmeras".

O filme de Scorsese, uma declaração pessoal de amor ao cinema de Kazan e um testemunhal de como a figura de Kazan é representativa para a formação de Scorsese como diretor. "Não concordo muito com várias das escolhas de Marty para esse filme, como por exemplo, Vidas Amargas (East of Eden, 1955), que para mim é um filme apenas OK, para ele houve toda uma ligação e influência. E o cinema é isso, filmes vêm e nos conquistam. Você pode discutir isso, mas o impacto é todo seu".

Perguntado se considerava a edição e até o resultado final de Carta Para Elia um tanto preguiçoso, Schickel foi veemente: "De forma alguma acho o filme preguiçoso, assisti a um corte bruto dele há um ano e meio atrás e acho que Martin focou em elementos que lhe prenderam em sua própria subjetividade". O escritor comentou que o verdadeiro espírito do imigrante, com o qual Scorsese define Kazan em algumas cenas de Terra de um Sonho Distante (America America, 1963), para ele está em cenas diferentes das mostradas no documentário. "Vejo muito mais Kazan nos momentos finais, quando o protagonista, Stathis Giallelis, vira um engraxate e joga moedas para cima chamando os clientes. Isso é o verdadeiro espírito do imigrante para mim, Marty poderia ter mostrado isso, mas não acho o filme preguiçoso, e sim, autoindulgente."

Comparando Scorsese a Kazan, Schickel, que conheceu muito bem ambos, decretou: "Kazan era menos preocupado com os significados das cenas do que Scorsese. Ele tinha uma relação de alta prontidão com as coisas, vocês viram aqui que ele rodou filmes de gênero e sob encomenda, como o que se passa em Nova Orleans (Pânico nas Ruas/ Panic in the Streets), que não precisava ser feito, mas que traz coisas incríveis como o relacionamento amoroso entre os personagens. Filmes precisam respirar; às vezes, de uma coisa não tão bacana saem outras incríveis. E Scorsese é muito mais preso aos seus roteiros do que Elia. Kazan gostava de ser surpreendido, Scorsese vai mais por seu próprio caminho".

O exemplo encontrado por Schickel para exemplificar esse desprendimento de Kazan com os elementos de seus filmes foi o que certamente começou a mudar o estilo de atuação na época do pós-guerra e para o qual a parceria Marlon Brando/ Elia Kazan foi fundamental. "Brando parecia sempre indiferente à direção, Elia sempre perguntava `onde diabos ele está´ e de forma instintiva ele conseguiu achar o tom do trabalho com um rebelde como Brando. Em Sindicato de Ladrões, quando a mocinha deixa a luva cair e ele a coloca nas mãos, foi um total improviso, mas que Kazan adorou e usou no filme. Mas Kazan às vezes perdia a paciência com ele, foi um intenso exercício de paciência, mas que limpou a tábua das antigas atuações impostadas e sem naturalidade. Brando e Kazan demarcaram o território da atuação subjetiva".

Fonte: Jornal da Mostra

 

"O CINEMA MUDA O NOSSO OLHAR", DIZ LAÍS BODANZKY

Diretora dos filmes Bicho de Sete Cabeças (2000), Chega de Saudade (2008) e As Melhores Coisas do Mundo (2010), Laís Bodanzky aceitou o convite para dar seu depoimento ao ciclo Os Filmes da Minha Vida "por ser algo provocativo, quase uma sessão de terapia. Quando eu pensei nos filmes que me marcaram, vi que eles eram assim pois tinham a ver com o contexto em que foram vistos", começou Laís nesse penúltimo depoimento do quarto ciclo Os Filmes da Minha Vida. Afirmando não ser cinéfila, a diretora disse: "tenho uma formação engraçada, uma mistura de filmes autorais e grandes filmes de estúdio. Quando eu gosto de um filme eu não me lembro dos detalhes, de cenas especificas, mas os tenho como uma memória", completou.

Sua lembrança mais antiga em relação ao cinema é de uma projeção clandestina em sua casa de Iracema – Uma Transa Amazônica (1976), filme de seu pai Jorge Bodanzky. "Tinha 6 ou 7 anos, aquilo tudo era um mundo desconhecido". Mais tarde, o mesmo filme lhe marcou de outra maneira, "por como os atores interpretam, uma busca de verdade na atuação".

Laís comentou o projeto que coordena desde 2004, Cine Tela Brasil, que leva o cinema às comunidades de baixa renda. "Em cada cidade que passávamos os filmes nas comunidades, eles elegiam um como mais importante ou como melhor, e era sempre um filme que tinha algo a ver com algum aspecto deles, que dizia algo sobre eles, e funciona assim comigo", disse, lembrando do filme La Boum (1980, de Claude Pinoteau), assistido na sua adolescência e que tinha uma história parecida com a sua. "Eu saí do cinema flutuando, pois ele mostrava que os meus problemas não eram só meus, foi libertador". Ainda na adolescência, seu grande prazer era ir para a Avenida Paulista e ver os lançamentos, os musicais dos anos 1980.

Nessa época, Laís ia ao cinema com seus pais, quando viu Bodas de Sangue (1981), de Carlos Saura "Gostava do filme não só pela dança, mas pela maneira como ele contava aquela história". A Guerra dos Botões (1962, de Yves Robert), filme revisto recentemente com as suas filhas é um filme que segundo a diretora "me marcou muito e que não ficou nem um pouco datado; eu fiz meu primeiro curta, Cartão Vermelho (1994), pensando nesse filme, queria causar o mesmo impacto na plateia, o mesmo impacto que eu tive".

Inicialmente diretora de curtas-metragens, afirmou que seu curta preferido é Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado. "Que é quando o cinema se renova, se reinventa, e isso é algo que tem a ver com o mérito do cinema de mudar o nosso olhar, de te fazer mudar sem você perceber."

Citou ainda filmes como O Apocalipse de um Cineasta (1991), making of de Apocalypse Now (1979, de Francis Ford Coppola), "que mostra a crise permanente que é fazer cinema"; Jogo de Cena (2007, de Eduardo Coutinho), "filme que destitui a verdade no cinema, que vai muito fundo em sua tese"; Zelig (1983, de Woody Allen), "um divisor de águas, que nos questiona quem somos nós afinal"; e Os Incompreendidos (1959, de François Truffaut), "filme que me impactou não só pela linguagem, mas pela temática, que permanece incrivelmente atual".

Laís terminou seu depoimento dizendo: "O cinema é algo provocador, um filme é quase uma desculpa pra tomar certas atitudes, para mudar algo".

O ciclo OS FILMES DA MINHA VIDA termina este ano na Mostra nesta quarta-feira, 2 de novembro, com o depoimento do escritor e roteirista Marçal Aquino - às 11h da manhã no Cine Livraria Cultura 2, Conjunto Nacional, com entrada gratuita.

Cine Livraria Cultura 2 – Conjunto Nacional
(Rua Augusta, 1811 – esquina com a Paulista)
Entrada gratuita

Fonte: Jornal da Mostra

 

Por Laísa Trojaike - @LaisaTrojaike

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