David Lynch: o surrealismo desnarrativo de seus clássicos cult

Publicada em 04/03/2016 às 18:00

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Aos 70 anos, David Lynch continua sendo lembrado por seus filmes peculiares (Foto: Derek Hudson)

Aqueles que pensam que cinema é acompanhar a narrativa dos filmes da Marvel, saber dos próximos lançamentos e já ter assistido O Regresso, ou mesmo conhecer algum clássico como O Exorcista, precisa conhecer um pouco da obra de alguns dos principais nomes que contribuíram para a sétima arte. E hoje contaremos um pouco da obra de David Lynch, um nome que você precisa conhecer para entender o cinema atual e o estilo lynchiano.
 
Nascido em 1946, David Keith Lynch já se enveredou por alguns dos principais ramos da arte: artista plástico, músico, ator, designer, escritor, roteirista e diretor. Mas certamente foi no cinema que ele se destacou.
 
As principais obras de David Lynch são conhecidas pelo surrealismo, expressionismo e experimentalismo. Uma mesclagem de sonhos, pesadelos e realidade, não necessariamente nesta ordem - e, muitas vezes, sem uma ordem necessariamente, marcam sua narrativa não-linear.
 
Aqueles que acabam de assistir seus filmes ficam em silêncio, tentando entender tudo o que viram - e continuam pensando neles mesmo após muito tempo. Ao assistir, nos deparamos dentro de um sonho, mergulhando para o interior de sua psique. Seus filmes beiram ao nonsense, contrariam a lógica, sendo um retrato de um pesadelo escondido na cabeça do autor - e passa a ser do espectador.
 
David Lynch voltou recentemente a ser destaque pelo retorno de Twin Peaks, série inacabada exibida durante os anos de 1990 e 1991. E não foi por falta de qualidade ou público, pois a série havia ganhado o Globo de Ouro como "melhor série dramática" em 1991, dentre outros prêmios. Em sua lista constam filmes emblemáticos, como The Elephant Man ('O Homem Elefante') (1980), baseado em fatos reais, e que contou com Anthony Hopkins no elenco, e o surreal Inland Empire ('Império dos Sonhos') (2006), com Laura Dern e Jeremy Irons.
 
Apesar de seu currículo extenso, reunimos aqui os 5 filmes mais relevantes do autor para conhecer o seu trabalho.

Eraserhead (1977)

A primeira recomendação para introduzir à obra de David Lynch certamente é Eraserhead. Se você tem a arte na alma, sem preconceitos de estilos, você se apaixonará. Caso contrário, vai desistir do filme nos primeiros 2 minutos. Inspirado na metamorfose kafkiana, o título serviu de inspiração para diversos outros cineastas, como Stanley Kubrick.
 
Considerado um clássico do horror surrealista, ou apenas um filme 'freak', Eraserhead é um tanto perturbador. Com apenas 1h30m, as gravações em preto e branco, e seres bizarros que fogem do padrão, conferem um tom fúnebre ao longa, o que o torna um clássico cult em um cenário onde surgia o estilo gótico oitentista.
 
Ambientado em um cenário industrial desolado, Henry Spencer (Jack Nance) é um estranho sujeito que descobre que sua namorada, Mary X (Charlotte Stewart) deu luz a uma estranha criatura, que apenas chora estridentemente a cada vez mais. Spencer se vê sozinho com o seu filho que o atormenta, e tudo parece tentar acordar de um pesadelo.
 
Sem lógica ou espaço-tempo, as sinopse nunca resumirão este clássico. Assisti-lo é a melhor forma de entendê-lo e mergulhar dentro de um pesadelo.
 

Blue Velvet ('Veludo Azul') (1986)

Em Blue Velvet (ou Veludo Azul), conferimos Jeffrey Beaumont (Kyle MacLachlan) encontrar, em um terreno baldio, uma orelha cortada cheia de formigas. A trama segue então Jeffrey tentando descobrir, por conta própria, o que realmente ocorreu naquele local com a ajuda de Sandy Williams (Laura Dern), filha do detetive.
 
Os protagonistas acabam se envolvendo com a cantora Dorothy Valens (Isabella Rossellini), conhecida como 'Mulher de Azul', e invadem seu quarto para obter pistas. Mas acabam descobrindo que Dorothy é forçada a ter relações com Frank Both (Dennis Hopper), um mafioso viciado em gás hélio que sequestrou seu marido e filho.
 
O clima de mistério e suspense, além da inclusão de elementos que se inserem na trama sem uma razão aparente, Blue Velvet é o principal título no estilo neo-noir de David Lynch, que o agregou com elementos próprios.

Prêmios e indicações:

Indicação como "melhor diretor" para David Lynch (Oscar, 1987), como "melhor ator coadjuvante" para Dennis Hopper e "melhor roteiro" (Globo de Ouro, 1987); vencedor como "melhor atriz principal" para Isabella Rossellini (Independent Spirit Awards, 1987), vencedor como "melhor filme" (NSFCA, 1986; BSFC, 1987) e "melhor diretor" (NSFCA, 1986; BSFC, 1987; LAFCA, 1987).
 

Wild at Heart ('Coração Selvagem') (1990)

Baseado no romance Wild at Heart: The Story of Sailor and Lula (1990), de Barry Gifford, a adaptação Wild at Heart (ou Coração Selvagem) conta a história dos jovens namorados Sailor Ripley (Nicolas Cage) e Lula Fortune (Laura Dern). Os dois entram em uma viagem pelo território norte-americano, fugindo da mãe de Lula, que contrata assassinos para matar o rapaz.
 
A fotografia do longa é um destaque, e a reunião de elementos visuais fortes parecem querer denotar a paixão do casal, ao mesmo tempo que tenta criar um ambiente aestético: labaredas, sangue e vômito marcam algumas cenas.
 
Se um romance deve ter um caminho e um final feliz? Não necessariamente no expressionismo lynchiano.

Prêmios e indicações:

Filme vencedor da Palma de Ouro no Cannes (1990), com indicação de Diane Ladd como "melhor atriz coadjuvante" ao Oscar (1991) e ao Globo de Ouro (1991).
 

Mulholland Drive ('Cidade dos Sonhos') (2001)

O longa traz a história de Betty Elms (Naomi Watts), uma atriz em início de formação que viaja para Hollywood tentar o sucesso. Ela então se hospeda na casa de sua tia que acabara de viajar, mas lá dentro se depara com uma intrusa que perdeu sua memória e se identifica como Rita (Laura Harring). Ambas então tentam descobrir quem realmente ela é.
 
Mulholland Drive (ou Cidade dos Sonhos) tem como linha principal o clima de mistério. Estranhas pistas surgem, como a chave azul, e as sequências parecem cada vez mais se afastar da realidade. Como nos outros filmes, a trama se quebra sem explicação e de forma imprevisível, como a mudança das histórias e das personagens: será mesmo que é só uma ou são múltiplas tramas em um só filme?

Prêmios e indicações:

Vencedor da categoria "melhor filme" (NSFC, 2002; NYFCCA, 2001; CFCA, 2002) e "melhor diretor" para David Lynch (Cannes 2001; LAFCA, 2001; CFCA, 2002), que foi indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro nesta categoria em 2002.
 

Lost Highway ('Estrada Perdida') (1997)

Lost Highway (ou Estrada Perdida) é um título literalmente adequado para o seu enredo.
 
A trama envolve o saxofonista Fred Madison (Bill Pullman), que recebe uma fita de vídeo onde presencia que sua esposa Renee Madison (Patricia Arquette) foi por ele assassinada. Após a prisão, tudo parece se tornar mais confuso: Fred é contratado por um mafioso e conhece sua amante, Alice Wakefield (Patricia Arquette), que é a personificação de Renee. Os dois começam um caso e passam a ser perseguidos, mas a história parece voltar ao seu início.
 
Confuso? Nele, David Lynch volta à sua temática não-linear, com quebra no fluxo de consciência e seres metamórficos (que nada mais são do que as faces da personalidade). Este é mais um dos filmes que é preciso assistir para entender (ou não).

Prêmios e indicações:

Eleito como "melhor filme estrangeiro" no SESC Film Festival, em 1998, no Brasil.
 
Por Rosa Felix

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