Aos 70 anos, David Lynch continua sendo lembrado por seus filmes peculiares (Foto: Derek Hudson)
Aqueles que pensam que cinema é acompanhar a narrativa dos
filmes da Marvel, saber dos próximos lançamentos e já ter assistido
O Regresso, ou mesmo conhecer algum clássico como
O Exorcista, precisa conhecer um pouco da obra de alguns dos principais nomes que contribuíram para a sétima arte. E hoje contaremos um pouco da obra de
David Lynch, um nome que você precisa conhecer para entender o cinema atual e o estilo lynchiano.
Nascido em 1946, David Keith Lynch já se enveredou por alguns dos principais ramos da arte: artista plástico, músico, ator, designer, escritor, roteirista e diretor. Mas certamente foi no cinema que ele se destacou.
As principais obras de
David Lynch são conhecidas pelo surrealismo, expressionismo e experimentalismo. Uma mesclagem de sonhos, pesadelos e realidade, não necessariamente nesta ordem - e, muitas vezes, sem uma ordem necessariamente, marcam sua narrativa não-linear.
Aqueles que acabam de assistir seus filmes ficam em silêncio, tentando entender tudo o que viram - e continuam pensando neles mesmo após muito tempo. Ao assistir, nos deparamos dentro de um sonho, mergulhando para o interior de sua psique. Seus filmes beiram ao nonsense, contrariam a lógica, sendo um retrato de um pesadelo escondido na cabeça do autor - e passa a ser do espectador.
David Lynch voltou recentemente a ser destaque
pelo retorno de Twin Peaks, série inacabada exibida durante os anos de 1990 e 1991. E não foi por falta de qualidade ou público, pois a série havia ganhado o Globo de Ouro como "melhor série dramática" em 1991, dentre outros prêmios. Em sua lista constam filmes emblemáticos, como
The Elephant Man ('O Homem Elefante') (1980), baseado em fatos reais, e que contou com
Anthony Hopkins no elenco, e o surreal
Inland Empire ('Império dos Sonhos') (2006), com
Laura Dern e
Jeremy Irons.
Apesar de seu currículo extenso, reunimos aqui os 5 filmes mais relevantes do autor para conhecer o seu trabalho.
Eraserhead (1977)
A primeira recomendação para introduzir à obra de David Lynch certamente é
Eraserhead. Se você tem a arte na alma, sem preconceitos de estilos, você se apaixonará. Caso contrário, vai desistir do filme nos primeiros 2 minutos. Inspirado na metamorfose kafkiana, o título serviu de inspiração para diversos outros cineastas, como
Stanley Kubrick.
Considerado um clássico do horror surrealista, ou apenas um filme 'freak', Eraserhead é um tanto perturbador. Com apenas 1h30m, as gravações em preto e branco, e seres bizarros que fogem do padrão, conferem um tom fúnebre ao longa, o que o torna um clássico cult em um cenário onde surgia o estilo gótico oitentista.
Ambientado em um cenário industrial desolado, Henry Spencer (Jack Nance) é um estranho sujeito que descobre que sua namorada, Mary X (Charlotte Stewart) deu luz a uma estranha criatura, que apenas chora estridentemente a cada vez mais. Spencer se vê sozinho com o seu filho que o atormenta, e tudo parece tentar acordar de um pesadelo.
Sem lógica ou espaço-tempo, as sinopse nunca resumirão este clássico. Assisti-lo é a melhor forma de entendê-lo e mergulhar dentro de um pesadelo.
Blue Velvet ('Veludo Azul') (1986)
Em
Blue Velvet (ou Veludo Azul), conferimos Jeffrey Beaumont (
Kyle MacLachlan) encontrar, em um terreno baldio, uma orelha cortada cheia de formigas. A trama segue então Jeffrey tentando descobrir, por conta própria, o que realmente ocorreu naquele local com a ajuda de Sandy Williams (
Laura Dern), filha do detetive.
Os protagonistas acabam se envolvendo com a cantora Dorothy Valens (
Isabella Rossellini), conhecida como 'Mulher de Azul', e invadem seu quarto para obter pistas. Mas acabam descobrindo que Dorothy é forçada a ter relações com Frank Both (Dennis Hopper), um mafioso viciado em gás hélio que sequestrou seu marido e filho.
O clima de mistério e suspense, além da inclusão de elementos que se inserem na trama sem uma razão aparente, Blue Velvet é o principal título no estilo neo-noir de David Lynch, que o agregou com elementos próprios.
Prêmios e indicações:
Indicação como "melhor diretor" para David Lynch (Oscar, 1987), como "melhor ator coadjuvante" para Dennis Hopper e "melhor roteiro" (Globo de Ouro, 1987); vencedor como "melhor atriz principal" para Isabella Rossellini (Independent Spirit Awards, 1987), vencedor como "melhor filme" (NSFCA, 1986; BSFC, 1987) e "melhor diretor" (NSFCA, 1986; BSFC, 1987; LAFCA, 1987).
Wild at Heart ('Coração Selvagem') (1990)
Baseado no romance
Wild at Heart: The Story of Sailor and Lula (1990), de Barry Gifford, a adaptação
Wild at Heart (ou Coração Selvagem) conta a história dos jovens namorados Sailor Ripley (
Nicolas Cage) e Lula Fortune (
Laura Dern). Os dois entram em uma viagem pelo território norte-americano, fugindo da mãe de Lula, que contrata assassinos para matar o rapaz.
A fotografia do longa é um destaque, e a reunião de elementos visuais fortes parecem querer denotar a paixão do casal, ao mesmo tempo que tenta criar um ambiente aestético: labaredas, sangue e vômito marcam algumas cenas.
Se um romance deve ter um caminho e um final feliz? Não necessariamente no expressionismo lynchiano.
Prêmios e indicações:
Filme vencedor da Palma de Ouro no Cannes (1990), com indicação de
Diane Ladd como "melhor atriz coadjuvante" ao Oscar (1991) e ao Globo de Ouro (1991).
Mulholland Drive ('Cidade dos Sonhos') (2001)
O longa traz a história de Betty Elms (
Naomi Watts), uma atriz em início de formação que viaja para Hollywood tentar o sucesso. Ela então se hospeda na casa de sua tia que acabara de viajar, mas lá dentro se depara com uma intrusa que perdeu sua memória e se identifica como Rita (Laura Harring). Ambas então tentam descobrir quem realmente ela é.
Mulholland Drive (ou Cidade dos Sonhos) tem como linha principal o clima de mistério. Estranhas pistas surgem, como a chave azul, e as sequências parecem cada vez mais se afastar da realidade. Como nos outros filmes, a trama se quebra sem explicação e de forma imprevisível, como a mudança das histórias e das personagens: será mesmo que é só uma ou são múltiplas tramas em um só filme?
Prêmios e indicações:
Vencedor da categoria "melhor filme" (NSFC, 2002; NYFCCA, 2001; CFCA, 2002) e "melhor diretor" para David Lynch (Cannes 2001; LAFCA, 2001; CFCA, 2002), que foi indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro nesta categoria em 2002.
Lost Highway ('Estrada Perdida') (1997)
Lost Highway (ou Estrada Perdida) é um título literalmente adequado para o seu enredo.
A trama envolve o saxofonista Fred Madison (
Bill Pullman), que recebe uma fita de vídeo onde presencia que sua esposa Renee Madison (
Patricia Arquette) foi por ele assassinada. Após a prisão, tudo parece se tornar mais confuso: Fred é contratado por um mafioso e conhece sua amante, Alice Wakefield (
Patricia Arquette), que é a personificação de Renee. Os dois começam um caso e passam a ser perseguidos, mas a história parece voltar ao seu início.
Confuso? Nele, David Lynch volta à sua temática não-linear, com quebra no fluxo de consciência e seres metamórficos (que nada mais são do que as faces da personalidade). Este é mais um dos filmes que é preciso assistir para entender (ou não).
Prêmios e indicações:
Eleito como "melhor filme estrangeiro" no SESC Film Festival, em 1998, no Brasil.
Por Rosa Felix