Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas

Publicada em 19/01/2011 às 15:16

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Transformando o simplório em algo sensorial e esotérico, Apichatpong Weerasethakul (ou Joe, como se apelidou para facilitar a vida da mídia) criou um filme para agradar um público-alvo restrito e, visto o sucesso em Cannes, creio que tenha conseguido.

O filme segue o Tio Boonmee do título que, acompanhado pela cunhada, pelo sobrinho e por um enfermeiro, sucumbe a uma doença renal terminal em sua casa no meio do nada. A partir desse pré-argumento simples, o diretor estabelece um ambiente sereno através das longas tomadas fixas e da pertinente paz exposta na entonação de voz empregada pelos atores.

Recorrendo a refúgios espirituais budistas, Joe apresenta o fim do sofrimento (a morte) de uma forma, apesar de senciente, silenciosa. Poeticamente, ao ilustrar o desapego material de uma princesa e o seu grau de êxtase onírico, revela a essência do Nirvana em toda a sua transgressão carnal e espiritual. E, quando se percebe que a quase ausência de trilha sonora ajuda (!) o lento enredo, tudo parece se completar e tornar o resultado geral irrepreensível.

Porém, mesmo com um humor sutil e permeado por criaturas fantásticas que reforçam a natureza do projeto (junto à natureza - propriamente dita - tão admirada e explorada pelo cineasta), as quase duas horas de duração não são fortes o suficiente para disfarçar o roteiro oco e visivelmente concebido com a intenção de agradar ao circuito de arte, o que deixa a péssima impressão de sensibilidade mecânica.

Ao final, Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas é uma experiência sensorial excepcional e uma exercício cinematográfico admirável, difícil e cansativo. Um bom filme com intenções não tão louváveis. Em suma, mereceu a Palma de Ouro da mesma forma que o também bom A Rede Social mereceu o Globo de Ouro. Mas, então, basta ser bom para ser o melhor?

Bons e ruins filmes para nós!

Saiba mais sobre o filme Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas.

Por Sihan Felix

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