Os Mercenários

Publicada em 02/09/2010 às 17:39

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Obs: Não recomendo a leitura à quem ainda não teve a oportunidade de assistir. Contém spoilers.


É inevitável que a projeção inicie com alguma expectativa do espectador. Os nomes iniciais vão surgindo e é notável o burburinho que eles causam na sala... São verdadeiras marcas do cinema de ação. Com ícones de décadas passadas ou atuais, este encontro é uma reunião que deixa qualquer cinéfilo com uma imagem previamente promissora e, inevitavelmente, surge, no mínimo, uma exclamação eufórica e introvertida à primeira leitura dos nomes metalizados.

Pois bem... Esta aparição que causa um entusiasmo perfeitamente explicável é o ápice de todos os cento e três minutos.

Regado por uma brutalidade infame e que não convence no que se propõe a fazer - muito menos na clara tentativa de resgatar a violência cinematográfica das ações oitentistas -, o longa (o que é uma pena) se limita à um enredo pobre e inteiramente aprisionado àqueles homens altamente musculosos e que se aproximam dos companheiros por meio de piadas depreciativas e provocações nonsense... o que só se mostra eficaz quando realizadas pela personagem de Jet Li, que, sem dúvida, mostra-se talentoso e capaz ao circular entre a irracionalidade do filme e sua competência. É triste, porém, observar que tal talento seja utilizado quase que somente como alívio cômico.

Mas, então, após os pobres minutos iniciais, surge a oportunidade de vislumbrar o encontro dos três maiores astros da ação dos anos 80. Verdadeiras marcas juntos aos seus filmes, Stallone (John Rambo), Bruce Willis (John MacClane) e Schwarzenegger (o exterminador T-800) protagonizam juntos apenas uma cena, e esta é, no mínimo, decepcionante. Com um diálogo fraco, o cume negativo fica por conta da saída de Schwarzenegger, quando a personagem de Stallone afirma: “Ele quer ser presidente.” No que é uma clara alusão à carreira política do governador da Califórnia. Não funciona, não faz rir...

A projeção piora quando surgem as cenas de perseguição e luta. Não consigo conceber o que se passou na mente de Stallone e dos montadores, Ken Blackwell e Paul Harb, ao desenvolverem cenas confusas, nas quais o espectador se encontra geralmente perdido (coitados dos portadores de labirintite): “Quem está perseguindo quem?” “De onde veio aquela perna?” “Aquele cara tem quantos braços?”... São algumas perguntas que podem surgir ao visualizar estas sequências.

Além, é incontestável o mal uso, por parte de Stallone, de Jet Li. Por que escalar tal ator em um filme de ação, que claramente busca ressaltar as virtudes másculas e o alto índice de testosterona em sudorese, e desutilizar o combate corpo a corpo de quem é marcado pela extrema técnica e elegância nas artes marciais? A única sequência que Li pode demonstrar suas habilidades é completamente (e ridiculamente) atrapalhada pela já dita montagem.

Stallone tenta, também, focalizar cada componente da equipe com uma tomada própria, o que é, sim, louvável, mas falha enormemente ao não estabelecer com veemência a especialidade de cada um, situando-os como integrantes quase semelhantes igualmente dispostos a saírem distribuindo balas em corpos alheios. Talvez, a fraca excessão seja a personagem de Jason Statham, que se mostra um exímio manipulador de facas.

É um alívio poder, ao menos, contar com a participação de Mickey Rourke. Mesmo garimpando um texto débil, Rourke consegue quase fazer tudo aquilo funcionar, e uma das suas cenas, se não fosse pelo close excessivo e a fotografia azulada sem qualquer sentido, seria primorosa.

Os efeitos visuais, para os mais atentos, com certeza parecerão muito fracos. A edição de som, equivocada, por vezes estabelece a trilha sonora muitos decibéis acima do restante, o que incomoda.

Por fim, fico triste ao afirmar que, em um contexto geral, Os Mercenários é muito fraco e desnecessariamente tolo. Mas se Stallone quis fazer, realmente, “um filme de homens para homens”, ele conseguiu ser ainda mais específico. Fez um filme de homens para homens sem senso crítico e com os cérebros afetados demais pelo alto índice de testosterona.

Sr. Stallone, obrigado pelo presente, mas o mundo viveria muitíssimo bem sem os seus (macacos?) mercenários.

Bons e ruins filmes para nós!

Saiba mais sobre o filme Os Mercenários.

Por Sihan Felix

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